O Brasil inteiro está lembrando os 50 anos do golpe militar que nos colocou em uma ditadura militar que durou 21 anos e tem conseqüências até hoje. Por trás do golpe, estava a dependência do Brasil do governo dos Estados Unidos e a formação dos militares não para servir ao povo e à sua libertação, mas para servir à manutenção de um sistema de poder, mesmo se ele é injusto e baseado na desigualdade social.
Na época, eu tinha exatamente 18 anos e estava na clausura do mosteiro de Olinda. O abade, parente de generais, era a favor do golpe, embora defendesse direitos humanos e mais tarde, ficasse contra a ditadura. Eu fui contra desde o começo e não só contra os seus abusos (violações aos direitos humanos) e sim contra o próprio sistema. E assim que pude, me pus em campo para lutar contra a ditadura. Participei de grupos que ajudavam os presos políticos, os visitava na prisão e no colégio onde ensinava e depois fui diretor, implantei o método do Paulo Freire, cassado pelos militares.
Tive vários amigos ou conhecidos que foram mortos e presos. Eu mesmo me sentia mal de ter sido apenas detido duas vezes e seguido durante algum tempo. Para mim, era um sinal de que eu não fazia nada de tão correto ou importante que ameaçasse o sistema.
Do meu ponto de vista, lamento que a hierarquia da Igreja Católica no Brasil, fora raras exceções, tenha apoiado o que eles chamavam de "revolução". De fato, no decorrer da História, a hierarquia eclesiástica sempre se posicionou a favor de toda mudança autoritária e contra os interesses dos pobres e sempre se posicionou contra toda mudança que venha do povo mais empobrecido e na linha da libertação. Atualmente, estamos tentando mudar isso com a teologia da libertação e a mística do reino de Deus, mas mesmo assim até hoje conferências episcopais como as da Venezuela, do Equador e da Bolívia se pronunciam contra os governos bolivianos eleitos pelo povo para mudar a realidade do país. Tomam essa posição pelo medo do comunismo que continua sendo um fantasma para eles e por conveniência de quem não quer perder o seu poder.
Como é diferente isso da posição de Jesus nos evangelhos.
Nesses dias, o papa Francisco vai canonizar o papa João XXIII. Ele soube que o tinham eleito para ser um papa de transição. Ele aceitou isso, mas deu ao termo transição outro sentido e se tornou o papa da mudança, do adjornamento, isso é, da atualização.
Que não tenhamos receio de nos renovar sempre e a partir de critérios do cuidado com o povo e do bem de toda comunidade. Se fizermos isso, seremos revolucionários, como Jesus e a nossa revolução será sinal e testemunho da realização do projeto de Deus no mundo.