Hoje, fui convidado por uma equipe de cinema que está fazendo um filme sobre Dom Timóteo Anastácio, monge que nos anos 70 foi abade beneditino do mosteiro da Bahia e faleceu em 1994. Dom Timóteo teve uma influência cultural e religiosa imensa em Salvador. Como tive a graça de ser amigo dele (mesmo eu sendo jovem, naquela época e ele tinha idade de ser meu pai), a equipe que está fazendo o filme ("Aos meus irmãos"), me pediu para dar uma entrevista e filmar um testemunho sobre Dom Timóteo. Fui a Salvador, BA, de manhã e voltei agora no final da tarde. De um lado, gostei muito de lembrar aqueles tempos proféticos e a figura carismática de Dom Timóteo. Do outro lado, sofri, porque ao lembrar tudo o que vivemos naquele final dos anos 60 e durante os anos 70, não pude deixar de pensar: Mas, meu Deus, a história caminhou para trás? Na Igreja, as coisas regrediram? Senti-me como se as comunidades religiosas tivessem optado por entrar na máquina do tempo do professor Pardal (dos gibis de Donald e Mickey), mas não existe máquina do tempo. A história não anda para trás. Se houve retrocesso social, cultural, teológico e comunitário, fomos nós que andamos para trás. Não a história. E que vitalidade tem hoje essas comunidades que optam por viver como se fosse há dois séculos atrás e isso em nome de Jesus? Quando alguns religiosos vão descobrir que em 1789 a sociedade ocidental fez a revolução francesa e descobriu que a monarquia não é a única forma de governo e menos ainda a mais sagrada e da vontade de Deus? Quando vão compreender que o papa, ao insistir em uma Igreja "em saída", isso que é que viva para fora e não para dentro de si mesma, está nos dizendo: uma pessoa que vive em função de si mesma é doente. Uma comunidade que vive em função de si mesma é doente. Uma Igreja mais ainda é doente e adoece os fieis.... É preciso sair. O pastor é o nômade (ou se preferir peregrino) que como diz o evangelho (João 10), abre a porta do aprisco (dos refúgios em que nos abrigamos) e chama as ovelhas para fora. Vai adiante delas. Vai na frente (não atrás, não puxado pelas ovelhas, mas as estimula indo à frente delas. O pastor deve ser mais avançado do que as ovelhas, não mais conservador) e as leva para fora do aprisco - ao mundo - ao lugar onde há pastagens. "Eu vim para que todos tenham vida e vida em abundância".
Dom Timóteo, Dom Helder e tantos outros irmãos e irmãs que naquela época deram a vida para renovar a Igreja e o mundo viveram isso. E nós?