Ontem, minha irmã Penha fez a cirurgia cardíaca (reposição da válvula aórtica) e graças a Deus até aqui tem tudo dado certo. Apesar do sofrimento que uma operação invasiva e arriscada significa, ela resistiu bem e está se recuperando. Ao dever acompanhá-la no hospital e ficar com ela, seja até a entrada na sala de cirurgia, seja depois ao visitá-la rapidamente na UTI, a sensação que temos é de extrema fragilidade da vida e, ao mesmo tempo, a absoluta impotência nas mãos dos médicos e dos hospitais. Essa impotência é agravada em nosso sistema pela vergonhosa forma como a saúde se tornou comércio. Penha passou um mês inteiro lutando para conseguir ser operada em um hospital próprio (UNICORDIS) e o plano de saúde não autorizava. Ela pagou esse plano mais de vinte anos e quando precisou teve de esperar um mês, na tensão contínua de uma cirurgia que era urgente e se não tivéssemos colocado uma advogada competente, creio que até hoje ela não teria conseguido. O médico (aliás os dois que nos têm acompanhado, o clínico e o cirurgião) tem dado exemplo de muita dedicação e cuidado. Mas, a estrutura do hospital - no apartamento pediram que levássemos lençol para a acompanhante porque o plano não cobre lençol para acompanhante. Chega a esse ponto. De todos os modos, o importante é que estamos vencendo e espero dentro de pouco tempo estarmos livres disso tudo. É laro que continuo pensando na realidade do povo pobre que no SUS e nas UPAS da vida nem têm a sorte que minha irmã está tendo. E essa experiência me faz optar mais fortemente ainda por denunciar esse sistema e lutar por um sistema de saúde pública mais ético, mais democrático e eficiente.