Hoje foi para mim um dia de tristeza e de praticar o desapego espiritual e pessoal. Logo pela manhã, recebi um email do meu irmão e amigo Leonardo (Boff) que me anunciava a partida definitiva de Clelia Luro, uma grande amiga. Ela era argentina de Buenos Ayres. Quando jovem, foi de Ação Católica, casou, teve seis filhas e separada do marido (depois viúva), conheceu, namorou e casou com um bispo católico Dom Jerónimo Podestá, bispo de Avellana, perto de Buenos Ayres, homem aberto e amigo de Dom Hélder Câmara e de todo o grupo de bispos profetas da América Latina. Eu a conheci, apenas Jerónimo tinha morrido. Participamos juntos de um encontro pastoral em Madri e nos tornamos amigos (1999). Desde então, frequentemente conversávamos, no começo por carta, depois por email e agora ultimamente por skype.
Ela mesmo aos 86 anos era lúcida, ativa e estava sempre com novos projetos. Conseguiu publicar a coleção de cartas de Jerónimo. E quando na época do casamento o Vaticano mandava documentos secretos para o bispo reclamando do seu relacionamento com ela - a chamavam sempre de "aquela mulher". Ela pegou todos os documentos secretos, publicou em um livro cujo título é "Mi nombre es Clelia" (não me chamem "aquela mulher").
Nos últimos anos, ela desenvolveu uma boa amizade com o arcebispo de Buenos Ayres (Bergoglio) e avisou a ele que provavelmente ele seria o próximo papa (isso desde 2005). Quando foi eleito, ele lhe telefonou e a chamou de "bruxa que advinha as coisas". Eles mantiveram uma relação de telefonemas quase quinzenais. Nos últimos dias, ela pensava em juntar pessoas de vários países e funções para pensar um apoio à reforma da Igreja que o papa Francisco pensa em propor. Telefonou-me pedindo para ir a uma reunião na casa dela que seria no próximo sábado. Eu respondi que não podia, mas mandei um texto para ajudar na reflexão. Ela faleceu ontem praticamente de repente.
Deixa-nos o exemplo de uma mulher profética e uma dessas doutoras da Igreja, como Catarina de Sena, Teresa e outras. Tomara que sua mensagem e seu exemplo fecundem e provoquem uma Igreja mais aberta às mulheres e mais dialogante com o mundo.
No mesmo dia (hoje) soube que Dom Tomás Balduíno, 91 anos, a quem amo como a um pai (desde 1977, ele tem sido como um pai para mim - fui seu assessor - seu vigário geral por vários anos em Goiás) está muito mal em um hospital em Ceres, GO. Que Deus o acompanhe e o fortaleça.