Nas Igrejas orientais (a Igreja latina celebra como festa menor) hoje é a memória da Transfiguração de Jesus, aquele episódio - contado como parábola - no qual Jesus toma três amigos íntimos (Pedro, Tiago e João) e com eles sobe a montanha e lá entra em êxtase, deixando-os ver o esplendor divino nele. Jesus revela aos discípulos a presença divina que o dominava. A transfiguração (mudar de figura) não foi então algo que aconteceu a Jesus e sim aos olhos dos três que mesmo convivendo com ele, Jesus, diariamente, só naquele momento, viram nele aquilo que não tinham visto ainda. E o que viram? Viram que aquele Jesus que subia a Jerusalém para a cruz e era um pobre perseguido e com a vida em risco, aquele profeta desprezado e que era até para eles perigoso seguir, aquele homem era cheio da presença e da luz divinas.
Esse mistério da transfiguração sempre foi muito querido pelos monges e eu aprendi a gostar desse evangelho e dessa celebração. Tenho saudade do tempo em que eu vivia essa festa com vigília e em comunidade. Sinto falta, embora sei que o importante não é isso e sim o sentido que dou à minha vida e como devo procurar me transformar interiormente dia a dia de modo que, sendo eu mesmo e cada vez mais eu mesmo, pouco a pouco, me torne semelhante a Jesus. Tenho consciência de estar ainda muito longe dessa meta, mas não desanimo porque sei que não é fruto do meu esforço e sim graça divina e graça operada pela palavra que eu recebo com fé.
Ao mesmo tempo, sinto que essa transformação interior não é vivida cada um por si mesmo ou de forma isolada. A amizade tem um papel fundamental nisso e agradeço a Deus os amigos e amigas que tenho e que são tão importantes para mim, não só como testemunhas dessa transfiguração, mas como instrumentos eficazes. Quero também ser isso na vida deles e delas.