São onze e meia da noite e acabo de chegar de São Paulo onde durante dois dias, assessorei um curso sobre espiritualidade ecumênica para um grupo do CESEP (Centro ecumênico de serviços á pastoral). Era um grupo de umas vinte pessoas de três Igrejas diversas e uma ligada ao Candomblé Ketu. Curso assim rápido e intensivo (da manhã à noite) para mim que me comunico sem papel e sem roteiro prévio, me cansa bastante. E eu emendei com o retiro dos leigos do Recife.
Falar de espiritualidade é como dizia Santo Agostinho, falar do tempo. A gente vive, sabe o que é, mas tem dificuldade de definir e falar sobre. De qualquer modo, comecei mostrando um momento do show que Mercedes Sosa fez ao voltar do exílio de vários anos na Europa. Ela foi recebida pelos jovens e pelo povo argentino em um estádio de Tucuman, a cidade natal dela (passei lá em maio). Ver aquela multidão de jovens delirando com a volta dela e junto com ela gritar por liberdade, é algo comovente e nos faz pensar na energia de amor e de desejo que movia aquela multidão. É claro que não era uma espiritualidade religiosa, mas era algo do Espírito de Deus, sim. Como a gente viver isso no campo da fé?
Amanhã cedo viajo a Gravatá, cidade do interior de Pernambuco, onde me encontro com o abade Joel, abade do mosteiro de Tournay na França, mosteiro ao qual estou ligado e junto com ele participo da ordenação presbiteral do irmão Cristiano, um companheiro e amigo que acompanho desde jovem. Será uma boa ocasião para eu viver o espírito ecumênico que preguei nesses dois dias e me inserir em um contexto beneditino que conheço bem e que vivi durante tantos anos.