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Conversa, terça feira, 10 de março 2015

Se alguém me pergunta qual a doença da qual mais tenho medo, respondo sem hesitar: De Alzheimer. As outras podem ser dolorosas, terríveis, algumas até envergonham a gente e nos roubam não somente a saúde física, mas a alegria de poder estar junto com as pessoas amadas. Há mais de 20 anos, minha mãe morreu isolada em um hospital do Recife. Em uma clínica de periferia onde fora fazer um curativo no pé, contraiu tétano. Terrível agonia de oito dias e quatro paradas cardíacas.... Eu que até os 63 nunca tinha tido outra doença que gripe, desde então tive quase todas às quais tinha direito e provei, como diz o povo, "o que o diabo rejeitou no inferno". Mas, depois de cirurgia cardíaca (sou um velho safenado), vesícula extraída e outros problemas, penso: Meu Deus, ao menos, por enquanto, minha cabeça continua a toda. E me lembro de que, de uma anestesia geral, acordei com o peito costurado e a sensação de que tinha nascido de novo, mas sabendo os salmos que sei de cor e podendo orá-los mesmo no leito da UTI. 

Por que prefiro qualquer doença à Alzheimer? Por que nas outras consigo eu ser eu, enquanto que nessa, parece que a identidade da gente se vai e, de repente, além de ter perdido a memória, se perde até a consciência de quem somos. Soube que atualmente tem um filme "Para sempre Alice", candidato a Oscar  que trata desse problema. Sempre me lembro do filme argentino: O filho da noiva e de como a excelente Norma Alejandro faz o olhar vazio e distante de uma senhora que nem conhecia mais o próprio marido ou o filho. Fiquei muito impressionado quando no discurso de Natal do papa Francisco à cúria romana, ele disse que existe um Alzheimer espiritual. E que podia ser muito grave. Uma Igreja que esquece sua história e perde sua identidade própria.

Será que uma Igreja que ignora ou deixa de lado o Concílio Vaticano II e toda a sua proposta de renovação eclesial não caiu nesse Alzheimer espiritual?

Nesse mês de março, na Igreja latino-americana e no mundo, celebramos os 35 anos do martírio de Dom Oscar Romero, arcebispo de San Salvador no dia 24 de março de 1980. O pessoal das CEBs e da PJ prepararam esquemas de vigília e de orações. Não sei de nenhuma paróquia perto de nós que esteja disposta a se lembrar disso e fazer essa memória. Não é um pouco ou muito de Alzheimer espiritual?

Que Deus nos mantenha firmes na convicção de que, como dizia um rabino: Crer é se lembrar. Orar é dar graças pelo que vivemos. A memória é fundamental. 

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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