Ontem cheguei em Curitiba, onde encontrei um pequeno grupo de amigos e amigas do antigo mosteiro beneditino que nos anos 60 e 70 vivia aqui perto, há 25 km da cidade. Em 1976, querendo uma vida de monge, mas com um compromisso efetivo de comunhão com os pobres, eu que era monge de Olinda, pedi ao abade uma permissão (ele me deu por dois anos) e fui viver nesse mosteiro que era o único no Brasil ligado à teologia da libertação e à luta dos lavradores. Vivi com os monges do mosteiro da Anunciação dois anos (76 e 77) e no final do ano, a convite de Dom Tomás Balduíno, bispo de Goiás, eles se transferiram e eu com eles para a antiga capital do Estado de Goiás, onde vivemos e construímos um mosteiro que funcionou até 2009 quando os superiores da congregação beneditina de Subiaco decidiram fechá-lo.
Voltar a Curitiba me traz uma emoção forte de reviver aqueles tempos de luta e reencontrar muitos amigos e amigas que até hoje mantêm os contatos e vivem a espiritualidade que aprenderam a desenvolver na comunidade do mosteiro que era aberta a leigos e leigas.
Ao reencontrar essas pessoas, sou confirmado na certeza de que um mosteiro pode acabar, mas se ele tem um projeto profético, o projeto continua. E isso é o mais importante.
Estou lendo uma biografia do teólogo luterano Dietrich Bonhoeffer e ali encontrei uma carta dele na Alemanha nazista de 1939 dizendo que quando a Igreja vive uma crise de mediocridade e tem dificuldade de retomar uma espiritualidade evangélica, é preciso reavivar o espírito monástico. E ele mesmo, luterano, fundou um centro de formação de pastores, tipo seminário, com a inspiração de uma comunidade de oração, meditação da palavra de Deus e busca de uma vida em comum. Aliás a partir dessa experiência, ele escreveu o livro "Vida em Comum" que retoma as intuições fundamentais do seu livro anterior "O discipulado" e as aplica ao ideal de vida comunitária. Como monge que agora vivo sozinho revivo a saudade disso tudo e respiro um pouco desse clima. Por isso, confirmo que sinto cada vez mais minha missão na linha de animar esses pequenos grupos de cristãos/ãs dispersos que querem manter a espiritualidade profética e o ideal de uma vida alternativa, mesmo no meio das lutas da vida. Dou prioridade a acompanhar esse tipo de grupo e já tenho três grupos desse tipo no Brasil e dois na Itália que se reúnem regularmente e sempre que posso, viajo para animá-los, celebrar com eles e também receber deles o estímulo da fé que nos é comum.