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Conversa, terça feira, 14 de agosto 2012

Escrevo essas linhas do aeroporto de Recife esperando o voo para São Paulo e de lá para Assunção, onde amanhã participarei do ato público em defesa do povo paraguaio, contra o golpe de estado que foi contra o presidente Lugo, mas também contra os lavradores que ele defendia. Aí me recordo de que nesse dia, 14 de agosto, a liturgia católica faz memória de Maximiliano Kolbe, um franciscano  prisioneiro de um campo de concentração nazista que em 1943 se ofereceu para morrer no lugar de um pai de família que seria morto pelos nazistas como castigo por uma fuga no campo de concentração. Ofereceu-se para morrer no lugar do outro e foi sacrificado. Ontem visitei dois mosteiros e refleti sobre a vida religiosa hoje. Continuo a escrever junto com Antonieta Potente, uma amiga teóloga italiana (que vive na Bolívia) um livro de diálogos entre três pessoas, um jornalista, ela e eu, sobre a vida religiosa hoje. Chama-se em italiano "Passione per la vita" (escrevemos em italiano porque foi pedido por uma editora de lá). Ao falar em "paixão pela vida", fica parecendo o contrário do que Maximiliano Kolbe e tantos outros fizeram e tantos outros irmãos e irmãs fazem até hoje. O problema é que a paixão pela vida não é só pela minha vida e menos ainda pela minha vida isolada ou independente dos outros. E é essa paixão pela vida que nos faz mais generosos e amorosos. Minha oração, hoje, foi o desejo profundo de uma vida religiosa descomplicada que possa ser sinal dessa paixão pela vida para a humanidade de hoje, aberta a tudo o que é humano e crítica com relação ao mundo e mesmo à Igreja quando essa adere  ao espírito do mundo no que ele tem de iníquo. 

Como tento ao menos uma vez em cada semana ou de quinze em quinze dias ver um filme, tentei ver um que está no circuito comercial do Brasil. Chama-se "Sagrados segredos" e é de André Luiz de Oliveira. Esse diretor é conhecido porque já nos deu bons filmes como Meteorango Kid, o herói intergalático e outros. Agora filmou a via sacra de Planaltina, um espetáculo na linha da paixão da Nova Jerusalém - lá perto de Brasília e menos comercial porque é patrocinada pela prefeitura e para o povo é de graça (cada ano na sexta feira santa). No começo dos anos 90, eu e Dom Pedro Casaldáliga tentamos dar uma assessoria ao pessoal que pensa o texto para ser mais histórico ou mais fiel ao evangelho, mas é claro que é mais teatral misturar tradição mais histórica e lenda... Bem, André Luiz de Oliveira se encantou por aquilo que viu e fez um filme que mistura realidade (documentário da encenação) e ficção (busca espiritual dos personagens criados por ele). O filme é bem feito cinematograficamente e tem depoimentos do físico quântico indiano Amit Goswami sobre o que diferencia o cristianismo de outras importantes manifestações de fé. Não deixa de ser comovente sentir a busca profunda e pessoal do diretor, mas o filme me pareceu confuso e sem ter chegado a uma definição nem de estilo (nem é documentário, nem ficção) e também sem uma relação direta com o mundo de hoje. De todos os modos, valeu pela busca. 

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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