Ao lado da Piazza Argentina, no centro antigo de Roma, o palazzo Caetani era a casa dos Caetani. Essa família nobre dominou Roma durante muitos séculos. Dela vieram alguns papas, como em 1300 o famoso papa Bonifácio VIII. Naquele tempo, Pedro Celestino era um monge que foi escolhido como papa em 1294. Não aceitando o ambiente que encontrou, Celestino V renunciou ao papado para voltar a ser monge. Bonifácio VIII o sucedeu e para não ser incomodado por ele, o mandou prender e parece que também mandou matá-lo.
O palazzo Caetani é um prédio de alguns andares, hoje ocupado por residências alugadas à "Fundação Caetani" que até hoje administra os imóveis. A embaixada brasileira no Vaticano ocupa o primeiro andar, cheio de salas douradas e ricas em afrescos e toda ornada de quadros renascentistas. Ali, o embaixador Denis Fontes de Souza Pinto me acolheu com muita amizade para apresentar o meu novo livro "Evangelho e Instituição".
O embaixador deu as boas vindas a mim e aos convidados. Depois, o amigo Rafaele Luisi, jornalista da Rádio Vaticano, apresentou o livro. Afirmou que o livro pode ser muito útil nesse momento em que as Igrejas locais precisam apoiar a proposta de reforma da Igreja feita pelo papa Francisco. E fez alguns comentários sobre o Sínodo dos Bispos que atualmente acontece no Vaticano e que ele, como jornalista, acompanha de dentro. Alberto, editor do livro (da editora Messaggero de Pádua) deu uma breve palavra dizendo a alegria da editora de publicar esse livro e confirmou que a editora só pode publicá-lo porque estamos em tempos do papa Francisco. Até março de 2013, a editora jamais aceitaria publicá-lo. E aí deram-me a palavra.
Comecei dizendo que se até pouco tempo alguém me dissesse que eu lançaria um livro meu na embaixada brasileira no Vaticano, eu nunca acreditaria. Agradeço agora isso ao embaixador Denis e a esse novo clima existente na Igreja. Sobre esse livro, devo esclarecer:
Primeiramente: que eu o escrevi antes de tudo para mim mesmo. Eu precisava de meditar sobre esse assunto: como se relacionam em tensão profunda a força libertadora do Evangelho e a instituição eclesiástica, mas não só essa e sim toda instituição, inclusive a identidade de cada pessoa, como o ser padre, o ser monge e assim por diante... Como viver a nossa vocação a serviço da força libertadora do Evangelho.
Segundo: Como Igreja quer dizer assembleia e assembleia é por vocação um espaço de debate e diálogo, é preciso suscitar esse diálogo. Na espiritualidade judaica, um rabino ensinou ao discípulo que, no monte Sinai, Deus deu a Moisés a sua lei não em uma única tábua de pedra, mas em duas. Sabem por que? Para mostrar que sobre cada assunto, existem ao menos duas interpretações possíveis e válidas. Na nossa Igreja, depois de um longo tempo de pensamento único, é importante retomar esse direito à pluralidade. E essa reflexão do livro quer ajudar nisso.
Terceiro: faço isso com amor e por amor. E espero ser compreendido assim.
O pessoal reagiu com várias perguntas e conversamos por um bom tempo. Depois, no salão nobre da embaixada, o embaixador nos acolheu a todos para um coquetel de salgadinhos e refrescos.
Eu tinha pensado que talvez aquele ambiente medieval e refinado fosse o lugar menos indicado para um livro sobre a liberdade do Evangelho. De fato, a espontaneidade do grupo ali reunido foi tanta que o próprio lugar pareceu um sinal de que é possível respirar liberdade e amor na beleza da arte antiga e ser pobre e viver a comunhão da simplicidade, mesmo em meio a toda aquela riqueza.