Desde 1996, quando policias militares do Pará abriram fogo contra lavradores pacíficos e suas famílias que acampavam na encruzilhada de Eldorado de Carajás, PA, o MST tem feito do mês de abril, um tempo de ocupações de terra e mobilizações, como modo de chamar a atenção da opinião pública para o problema da terra no Brasil que continua não resolvido e até o contrário mais concentrado e injusto do que há duas décadas.
Infelizmente, hoje em dia, é cada vez mais difícil mobilizar a sociedade e todos os movimentos sociais têm mais dificuldade em se manter organizado e avançar como movimentos nessa conjuntura atual do Brasil e do mundo. Por isso, tenho a maior admiração e apreço pelo movimento dos trabalhadores sem terra que consegue sempre mobilizar os lavradores e atualizar suas bandeiras. Junto à Via Campesina que se espalha por muitos países do mundo, o MST está presente em Cuba, na Venezuela e em outros países do continente e no processo bolivariano e com sensibilidade para a integração continental. Líderes como Jaime Amorim em Pernambuco e João Pedro Stédile no coletivo da coordenação nacional são pessoas com uma história e uma dedicação à causa do povo que são exemplos para todos nós. Amanhã João Pedro falará sobre Reforma Agrária no Teatro Arraial no centro do Recife (rua da Aurora) e eu irei para ouvi-lo.
Hoje passei o dia inteiro traduzindo os salmos para essa nova versão que estou fazendo junto com a irmã Agostinha - uma versão macro-ecumênica, inclusiva e aberta ao mundo atual. "Com os salmos orar o hoje do mundo". Hoje meditei e retraduzi os salmos 36, 40 e o 42.
No final de cada salmo, junto uma oração de outra tradição que nos ajude a atualizar o sentido do salmo orado. Para o salmo 40, coloquei como conclusão a oração de um místico muçulmano da Idade Média. Vejam como é bela sua oração:
Quando busco o meu coração, o encontro em Ti.
Quando busco a minha alma, encontro-a entre os Teus cabelos. Quando sedento me avizinho a uma fonte para beber,
Mesmo no pequeno espelho d´água vejo o teu rosto refletido. Nada me está mais vizinho do que o Amado,
Mais vizinho a mim do que a minha própria alma, e dele não me recordo jamais, pois a lembrança existe para quem não está”. (Rumi, místico islâmico)1.
[1] - Cf FAUSTINO TEIXEIRA e WOLNEY BERKENBROOK, Sede de Deus, Orações do Judaísmo, Cristianismo e Islã, Petrópolis, Vozes, 2002, p. 260.