Queridos irmãos e irmãs,
"Se você sonha em poder, amanhã, mover montanha, comece, hoje a levantar pedras pequenas" (provérbio africano).
Hoje, comecei o meu dia com um encontro da comissão arquidiocesana de ecumenismo e diálogo inter-religioso. Conversamos sobre os desafios e as dificuldades desse caminho de diálogo. À tarde, uma conversa com alguém sobre o sentido dessa vida, com todo o sofrimento que as pessoas enfrentam. Como gostaria de dar uma resposta a isso. Não sei o que dizer e também sofro com isso. Muito. O que me dá força é que descubro que Jesus e os principais líderes religiosos da humanidade (Buda e outros) não quiseram tanto responder qual sentido o mundo tem, mas procuraram dar sentido à vida e ao mundo. E esse sentido é a solidariedade amorosa e a luta pacífica para transformar o mundo.
Aqui em casa, vejo minha irmã a esperar o telefonema do seu filho que está longe, no Amapá. E penso: Guimarães Rosa tinha razão ao dizer que toda saudade é uma espécie de velhice. Miguilim, um personagem de Rosa, diz o narrador, "todo dia, bebia um pouco de velhice" e aí ele explica que "os dias não cabiam dentro do tempo. Tudo era tarde". Penso que para transformar essa situação, só mesmo um amor que vá além de nós mesmos e do nosso círculo pequeno e que nos faça cantar como Violeta Parra em "Gracias à la vida": que nos olhos da pessoa amada, vemos os olhos de todo ser humano e nos olhos de todo ser humano, vislumbramos o olhar querido e esperado da pessoa amada. E nos passos de cada pessoa, escutamos os seus passos. E na voz e no modo de falar, abecedário, de todas as pessoas, é à pessoa do nosso coração que acolhemos.
Quando saio de casa para um encontro ou uma conversa, deixo que essa capacidade amorosa aflore à minha pele e tome conta de minhas veias e minhas vísceras de forma que eu possa contaminar de amor quem eu encontrar.