A coordenação dos bispos do Nordeste me fez antecipar um dia a minha volta da Itália e aceitar participar do encontro que os 20 bispos do NE II decidiram fazer em Campina Grande, PB, para comemorar os 60 anos da primeira conferencia dos bispos do NE quando, sob a coordenação de Dom Helder Câmara, propuseram a criação da SUDENE. O tema que me pediram para falar é "A missão da Igreja em relação ao Semiárido". Preparei-me, escrevi 14 páginas de um artigo sobre isso, antecipei de um dia a minha volta (viajarei amanhã), paguei multa em companhia aérea e aceitei fazer uma viagem mais cansativa para atendê-los. Agora me chega, de última hora, o aviso de que o encontro foi suspenso. E a razão é o momento político que o Brasil está vivendo. Segundo os bispos que decidiram suspender, não há clima de diálogo para fazer o encontro. Fico espantado com dois fatos:
O primeiro é que me pareceria que se o momento atual é de crise e de apreensão, deveria ser mais do que nunca oportuno se encontrar e refletir sobre o que está acontecendo. Então, o golpe parlamentar que o Brasil está vivendo deveria ser uma razão maior ainda para fazer a reunião e não para adiá-la.
A outra coisa é que se se diz que não há clima de diálogo, isso significa que a divisão não é somente no meio do povo, anestesiado pela Rede Globo e lobotomizado pela VEJA. A divisão é também no meio do próprio episcopado e dos organismos de Pastoral da Igreja. De um lado, compreendo que seja assim. Estamos todos no mesmo plano. Somos todos brasileiros. E se o povo está dividido, nós também. Mas, seja como for, imaginava que, ao menos os pastores se deixariam tocar pela voz das pastorais sociais e dos movimentos populares que, graças a Deus, não estão divididos. Sabem que estamos diante de um golpe e que o vencedor é o governo dos Estados Unidos da América do Norte.