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Conversa, terça feira, 22 de julho 2014

Na tradição das Igrejas antigas, hoje é a festa de Santa Maria Madalena, discípula de Jesus e, conforme os evangelhos, "apóstola dos apóstolos", pois foi ela que viu primeiro Jesus ressuscitado e foi enviada (apóstolo significa enviado) por Jesus: "Vá e diga a meus irmãos e a Pedro que eu os espero na Galileia". 

A tradição popular e mesmo alguns pais da Igreja confundiram Maria Madalena com a mulher adúltera do evangelho (João 8) e ainda com Maria de Betânia, irmã de Lázaro e de Marta. Talvez porque o evangelho de Lucas diga que "Jesus tinha expulsado de Maria sete demônios". Ninguém sabe a que isso se refere. De todo modo, gosto muito de ver uma mulher no número dos apóstolos e com essa característica de ser uma pessoa amada por Jesus e que o amou profundamente. Gosto do quarto evangelho, escolhido como leitura para esse dia. (Jo 20, 11- 18). E retomo em mim o desejo muito profundo de ser, cada dia, mais testemunha do Cristo ressuscitado, razão maior de nossa alegria.

Hoje, através de meu irmão e amigo Leonardo Boff, recebi uma mensagem de um médico norueguês que trabalha como voluntário em um hospital em Gaza na Palestina. Eis a mensagem dele: 


Mensagem do cirurgião norueguês Mads Gilbert

diretamente do hospital SHIFA, em Gaza, Palestina.

Queridos amigos

A noite passada foi muito dura para todos nós aqui. A "invasão por terra" em Gaza provocou dezenas de mortos e um montão de mutilados, feridos, ensanguentados e moribundos. Todos palestinos, de todas as idades. Todos civis e que nada têm a ver com essa guerra fraticida.

Os enfermeiros e voluntários/as são verdadeiros heróis que estão passando com as ambulâncias em meio aos escombros para ver se conseguem salvar ainda algumas vítimas. Estão trabalhando todos 24 horas por dia, quase caindo de cansaço e sob o peso de um trabalho desumano, além de não receberem nenhum pagamento. Há quatro meses, o hospital Shifa não tem dinheiro para pagar a ninguém. Assim mesmo, os funcionários estão correndo atrás de sangue e de leitos para socorrer esses seres humanos que são mortos pelo Estado de Israel como se fossem mosquitos. E são seres humanos...

Como médico, só posso testemunhar minha profunda admiração pelos voluntários e minha proximidade espiritual dessa resistência ("sumud") palestina. Verdadeiros mártires que nos dão força, mesmo se somente em vê-los, tenho vontade de gritar de dor, de chorar. Muitos pais, agarrados a uma criança, morta ou ferida, coberta de sangue, para lhe proteger em um abraço sem fim, mas nós temos de lhes dizer: nos entreguem suas crianças. Isso é perigoso. Elas e vocês podem morrer.

E de repente, um barulho, uma explosão, mais cinzas... Aí vem outras dezenas de ensanguentados e feridos. Verdadeiro lago de sangue no nosso átrio de emergência. São mais de cem casos chegados nessa noite ao hospital e aqui já não temos eletricidade, nem água, nem material de curativo, remédios, nada. E o próprio hospital teve uma ala bombardeada e está em escombros. 

É difícil acreditar que tudo isso está acontecendo apenas para que o Estado de Israel possa firmar sua ocupação militar nos territórios palestinos, sob qualquer pretexto, como esse da morte de três adolescentes judeus. Às vezes, custa a acreditar que, em pleno século XXI, uma coisa dessas possa estar acontecendo.

Preciso parar essa mensagem porque exatamente nesse minuto, escuto a orquestra macabra da máquina de guerra israelita, com sua artilharia atirando diretamente de navios no porto sobre as pessoas que passam nas ruas, os F16 norteamericanos que rugem sobre o nosso céu e os aviões não pilotados (Zenanis) que passam muito baixo quase sobre nossas cabeças. Tudo pago pelos Estados Unidos e países ocidentais que financiam tudo isso.

Convido o presidente dos Estados Unidos e as pessoas que ainda acham que o Estado de Israel possa ter alguma razão de vir aqui passar uma noite no nosso hospital - uma noite no Shifa Hospital basta. 

Por favor, nos ajudem a pôr fim a esse massacre. 

Se vocês se omitem e fazem de conta de não saberem, serão cúmplices diante de Deus de tanto sangue derramado. Em nome do Deus de todas as crenças, façam o que puderem para parar esse massacre. Isso não pode continuar.

Dr. Mads Gilbert, norueguês sem religião, sem partido político, mas com humanidade no coração.

(traduzi como podia do italiano)

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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