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​Conversa, terça feira, 27 de novembro 2012

Este é o dia em que nasci. Ou melhor comecei a nascer, já que todo nascimento só se efetiva a partir de uma série de mortes e renascimentos que a vida vai exigindo e nós temos de vencer. Quando deixamos a infância, a ruptura ou crise da adolescência tem aspecto de uma morte ou abandono de um tipo de vida e o assumir a vida em outra dimensão. Mais ainda quando nos tornamos adultos e o que dizer quando passamos dos 60 e vemos as forças diminuírem e a velhice se aproximando a passos largos? Deus me deu a imensa graça de assumir esses riscos e aceitar esse contínuo morrer e nascer... Quando entrei no mosteiro aos 18, aprendi que a Igreja celebra o dies natalis dos santos (o natalício) no dia em que eles entram no céu... Aí completou-se o nascimento ou o renascer. Para mim, consola saber que renascer a gente aprende... Com sofrimento e no meio de altos e baixos, mas pode sim aprender. 

Aprender a renascer ou aprender a se dispor ao Espírito que nos faz renascer. De acordo com o quarto evangelho, Nicodemos (nome simbólico) era um fariseu, professor da Bíblia e foi visitar Jesus de noite. (Não tinha coragem de ser discípulo à luz do dia). E Jesus lhe disse: Tens de nascer de novo. Justamente tens de arriscar a renascer. E ele perguntou: Como pode acontecer isso?  Uma pessoa pode voltar ao útero da mãe para nascer de novo? Jesus respondeu: Quem nasce da carne é carne, quem nasce do espírito é espírito. É preciso renascer do alto, de Deus, da graça. É claro que carne (o grego sarx aí não significa corpo (soma) e sim o sistema social do mundo. Quem nasce fisiologica e mesmo socialmente não renasceu ainda. Tem de renascer e renascer. Isso é um dom que vem do alto. Vem da graça divina, mas a gente tem de aceitar e se dispor. 

Nesse meu aniversário, tenho a tendência de dar uma olhada para trás e tentar descobrir a quanta estou do caminho. Isso não é de Deus. O importante é viver o hoje de Deus e me dispor ao que ele ainda me pedir amanhã. 

Eu teria muita vontade de no lugar de somar anos, somar amigos. A minha idade seria o número de amigos que tenho não somente como companheiros sociais, mas como irmãos e parceiros de uma aliança de amor que renasce no coração a cada momento. E graças a Deus, tenho muitos e bons. Amigos/as de mais de 40 anos e alguns mais recentes, mas todos de um modo ou de outro constituem uma comunidade profunda de irmãos e irmãs aos quais devo muito, muito mesmo do que sou e de como me sinto hoje. 

Neste dia (27 de novembro), a Igreja faz a festa de Nossa Senhora das Graças (ou da chamada "medalha milagrosa"). Nunca fui muito devoto disso, mas há tempos, compreendo que a devoção do povo faz de Maria não apenas a mãe de Jesus, mas a imagem viva do amor maternal de Deus. E hoje, não me choca mais contemplar Deus como mãe de todas as graças, da qual Maria é imagem e figura humana. 

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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