Em um mundo secularizado, laico e que perdeu toda referência profunda à cultura religiosa (e eu não sou contra isso), é claro que falar de 3a feira da Páscoa não significa nada. Hoje em dia, a Páscoa é apenas um feriado a mais para o pessoal poder descansar ou viajar tranquilo com a família. Em uma sociedade pluralista (na qual cada um tem a religião que quiser, ou nenhuma), isso é normal. Mas, para mim, cristão, esses dias são sim de festa interior e de celebração profunda de minha esperança em um mundo novo e em uma sociedade de justiça e paz.
Na oração dessa manhã, retomo o caminho de Maria Madalena na madrugada do domingo, no jardim da sepultura de Jesus (Jo 20, 11 - 18). Procuro reconhecê-lo vivo no meio de nós através de sua palavra e de suas testemunhas. E, por cima de todas as evidências de um mundo que se desagrega, canto a alegria de uma nova criação que se inicia pela ressurreição de Jesus.
Hoje, reparto com vocês um poema que um amigo meu, italiano, escreveu para essa Páscoa e eu traduzi adaptando um pouco: O vento, o sopro e o Espírito
Marco Campedegli
O vento falou ao sopro:
As montanhas, eu transporto,
Mas gostaria de estar contigo,
que, da boca de uma mulher.
Sais como uma flor.
Ao desejo, o sopro falou:
Sim, broto como uma flor,
Mas somente se estás ali,
Pois, assim, alguém me desejou.
Então, o desejo disse à alma:
Eu só existo naquela hora
Em que uma alma na outra se espelha
e, como no mar, ela se enamora.
À respiração a alma sussurrou:
Se não fosses tu,
Ou seja, se não existisses,
nem viva eu me sentiria.
A respiração à brisa revelou:
No verão, o pôr de sol é teu canto,
Quando os pés das crianças acaricias
e enxugas as lágrimas dos migrantes.
A brisa correu até o ar e lhe falou:
Sou parte de ti, eu sei.
És minha origem, meu destino certo,
Sempre pura sejas e de beleza plena,
por toda a imensidão do universo.
O ar acordou a água e lhe falou:
Revelo-te segredos no silêncio da noite,
Ao embalar tuas ondas e te ninar.
A água olhou a lua e lhe cochichou:
Quando te refletes em mim,
Enches o mundo de teu esplendor.
E a lua disse ao sonho:
És a minha casa, meu refúgio protetor,
Eu sou a lua, com quem, a cada noite, alguém sonha,
E na casa do pobre, sirvo de cobertor.
O sonho, então, ao Espírito conclamou:
Tu és o sopro, o desejo, és a alma e a respiração.
És a beleza, água corrente,
A lua que brilha no céu: Espírito de Ressurreição.
Um carinhoso abraço de ressurreição do seu irmão Marcelo