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Dale tu mano al indio

Repercute no mundo inteiro o depoimento da relatora especial da ONU para os povos indígenas Victoria Pauli- Corpuz. Nesses dias, ela visitou o Brasil e verificou em nome da ONU as violências cometidas contra os povos indígenas. O seu relatório oficial saiu nesses dias em várias línguas e pode ser encontrado na internet com data de 20 de setembro de 2017. Ali ela diz com todas as letras que desde a Constituição de 1988 a sobrevivência dos povos indígenas no Brasil nunca foi tão ameaçada como agora.
De acordo com a ONU, dos cinco milhões de índios que se presume terem vivido no território nacional no tempo da colônia, restam apenas menos de um milhão (o censo calcula em 818 mil pessoas e mais alguns grupos isolados e índios nunca descobertos na Amazônia). Eles estão agrupados em 305 grupos étnicos (nações) que falam 274 línguas diferentes. Estão presentes em 80% dos municípios brasileiros. Ainda nesses dias, no 2o Encontro Nacional de Juventudes e Espiritualidade Libertadora, acolhemos e eu pude tirar fotos com dois jovens guarani que vieram contar aos jovens as tribulações que eles estão vivendo no Pico do Jaraguá, dentro da cidade de Sao Paulo onde eles nasceram e os seus avós sempre viveram.
O que chamou a atenção da relatora da ONU foi a discriminação ainda existente contra os índios e a violência terrível ligada a isso. Nesse ano, já foram assassinados no Brasil 138 índios e indias. O governo Temer trouxe para os índios a paralização de todos os processos de demarcação de suas terras. O Congresso tem aprovado documentos que fragilizam muito a existência dos povos indígenas e dá força a fazendeiros e ruralistas. Nesse ano esses praticaram vários masacres, Em abril atacaram um grupo de indios Gamela no Maranhão provocando mortes e mutilações. No Mato Grosso continua a chacina dos Guarani-Kayowá.
O relatório da ONU diz que a construção da Usina Belo Monte tem significado um verdadeiro etnocídio para 18 grupos indígenas expulsos de seus territórios.
Nesses dias, morreu deprimido e de câncer em Goiás, o velho Iawi, o último dos guerreiros Avá Canoeiro, cantados pela bela canção de Milton Nascimento nos anos 70. Agora desse povo belo e altaneiro que singravam os rios do Centro-oeste e protegiam o cerrado só restam como sobreviventes oito pessoas da família da viuva de Iawi.  
Diante desse governo que os Gamela dizem com razão que é um governo anti-indígena e contra os pobres, só nos resta nós nos unirmos e cantarmos insistentemente para todos os brasileiros/as de boa vontade a Canción de mi América, composta por Daniel Viglietti nos anos 70 e imortalizada na voz da "negra" Mercedes Sosa: 
"Dale tu mano al indio. Dale que te hará bien. Y encontrarás el camino, como yo lo encontré..." 

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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