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Deus não é propriedade exclusiva de ninguém

XXVI Domingo comum: Mc 9, 38 – 48.

                                                           Deus não é propriedade exclusiva de ninguém

                 Neste XXVI domingo comum, o evangelho de Marcos 9, 37 a 47 mostra que nas primeiras comunidades cristãs, alguns grupos debateram sobre quem pode e quem não pode usar o nome de Jesus Cristo.  O evangelho conta que João, um dos discípulos mais chegados a Jesus, relata que tinha visto alguém que não pertencia ao grupo (não nos segue) expulsar o mal das pessoas em nome de Jesus e tinha proibido. O fato é que o grupo eclesial que, no tempo dos evangelhos, João representava, queria exercer o controle sobre o poder de usar o nome de Jesus. No entanto, o Mestre não aceita isso e deixa claro que não quer seita fechada, nem assina contrato de exclusividade com ninguém, nem com nenhuma Igreja. O critério é que o seu nome seja usado para libertar as pessoas do mal. Quem não é contra nós é porque está do nosso lado. 

No mundo capitalista, é importante obter o registro da marca que se quer vender e fazer contratos de exclusividade. Há batalhas jurídicas sobre quem pode e quem não pode usar nomes de pessoas famosas que servem de referência, seja no campo da educação, da saúde, ou das ciências e das artes. 

Atualmente, há pessoas e grupos de Igrejas que usam o nome de Jesus não para libertar os irmãos e sim para legitimar governos iníquos,  violências e discriminações. Há grupos fundamentalistas e intransigentes que usam o nome de Jesus e não é para agirem de acordo com o que o evangelho propõe de serviço aos excluídos e de partilha. Milionários estadunidenses e europeus financiam cursos de Parapolítica que é a atividade política de extrema-direita que se pode fazer a partir das espiritualidades orientais antigas e do que chamam de “cultura cristã”. No Brasil, grupos pentecostais e também católicos tradicionalistas pregam um Cristianismo de ódio e de exclusões. 

 

Conforme o evangelho que escutamos hoje, a função de um grupo ou de alguém que se diz de Jesus é facilitar o acesso de todos e todas a Jesus. Quem ajuda nessa comunhão agrada a Deus. Quem dificulta ou impede esse contato é contra Jesus. Nesse texto do evangelho, Jesus adverte com palavras duras as pessoas que provocam escândalo, ou seja, impedem o caminho da fé. De fato, atualmente, muitas pessoas, principalmente, jovens, sentem dificuldade de pertencerem à Igreja por não aceitarem estruturas autoritárias, fechadas sobre si mesmas e pastores que não sabem dialogar. 

Em grego, o termo escândalo está ligado à pedra de tropeço. É escândalo tudo o que impede que as pessoas possam percorrer livremente o caminho da fé e do discipulado de Jesus. No evangelho de Mateus, essa advertência para não escandalizar os pequenos está colocada no capítulo 18, no discurso de Jesus sobre como ele quer que a comunidade seja. Portanto, se trata de uma norma para o funcionamento das comunidades cristãs. 

Quem ouve essas palavras em nossos dias, logo se recorda dos escândalos que atinge o clero no plano moral, as denúncias seríssimas de pedofilia e do encobrimento desse crime por parte de não poucas autoridades eclesiásticas. A isso, se acrescentem os escândalos econômicos ocorridos no âmbito do Vaticano, de algumas dioceses católicas e também de Igrejas evangélicas e pentecostais que têm servido de instrumentos para o enriquecimento ilícito de seus pastores. 

Contra os escândalos, Jesus usou a linguagem da época e falou no fogo da Geena, um vale que ficava fora dos muros da cidade e onde era jogado o lixo a ser queimado. Ali havia um fogo que era praticamente contínuo e nunca se apagava. Jesus usa essa imagem que depois serviu para a teologia falar de inferno. 

Hoje, sabemos que Deus só pode amar e nunca seria capaz de torturar ninguém e menos ainda em um castigo eterno. O que é importante nessa imagem é revermos nossas prioridades e aceitar renunciar a tudo o que possa ser ocasião de tropeço no caminho da fé para as outras pessoas e especialmente para as mais vulneráveis. 

Graças a Deus, no mundo atual, líderes de diversas tradições espirituais têm deixado de se combaterem por causa de teorias e dogmas e procuram trabalhar juntos/juntas para resolver os grandes problemas que ameaçam a Terra e a vida da humanidade. Graças a Deus, cada vez mais, as comunidades de fé têm compreendido que a paz, a fome e a salvação da vida no planeta são assuntos que dizem respeito a todos/todas e, em nome da fé, ou seja em nome de Jesus, ou de Buda, ou do profeta Muhamad e de outros líderes espirituais devemos enfrentar. 

Talvez um bom comentário desse evangelho seja um dos poemas de Mário Quintana que a internet reproduz: 

Que a força que rege seu ser 

não se enfraqueça diante dos problemas.

Que os sonhos não alcançados 

sirvam de estímulos na realização de outros.

Que as dificuldades encontradas 

fortaleçam sua fé.

Que seu sorriso alimente sua alma 

quando os dias amanhecerem cinzas.

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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