Dia de oração pelo cuidado com a Criação
Há cinco anos que o papa Francisco propôs que, anualmente, todas as dioceses e paróquias católicas dedicassem sempre o primeiro domingo de setembro à oração pelo cuidado com a Criação. Ontem foi celebrada pela 5ª vez esse dia que deveria, de alguma forma, entrar no calendário litúrgico. Desde a década de 80, por orientação de Dionísios I, então patriarca ecumênico de Constantinopla, as Igrejas orientais incluíram essa data no calendário litúrgico e começam nesse domingo a leitura do livro do Gênesis. Há cinco anos, depois da Laudato sii, o papa Francisco quis que essa comemoração fosse assumida também pela Igreja Latina.
Pela importância que, no mundo atual, tem a crise ecológica e pela proximidade do Sínodo da Amazônia que tem como tema a ecologia integral, seria importante que as Igrejas locais tivessem assumido essa proposta com alegria e entusiasmo. Pelo pouco que constatei, no Recife, só a Igreja Episcopal Anglicana publicou em seu site fotos e uma matéria revelando que esse assunto foi lembrado e celebrado. Na própria Igreja Católica, nem a CNBB divulgou o assunto (não aparece no Diretório Litúrgico) e nem os folhetos litúrgicos que vi sobre o dia de ontem, faziam qualquer alusão sobre isso. Bispos e padres amigos me confessaram que nunca tinham ouvido falar desse assunto. É pena.
As notícias sobre o dia de hoje revelam furacão que já provocou mortes em Porto Rico e no Caribe e nessa noite está chegando à Flórida e a Miami. No Rio de Janeiro, chuvas fora de época que provocam inundações nas periferias e na Europa um calor mais forte do que em todos os anos anteriores. Ao mesmo tempo, a Amazônia queima e os rios de fumaça transformam o dia em noite em São Paulo, Belo Horizonte e outras cidades do sul.
Tomara que seja pura coincidência o fato de que a proposta do papa Francisco em um assunto como esse nem consiga chegar às bases das Igrejas. O fato é que é urgente integrar na nossa fé e no nosso modo de celebrar o cuidado com a Criação. Nenhum estudo ou constatação científica vai mudar o comportamento da sociedade com relação a isso. É preciso uma mudança cultural que pede o que o papa chama de “espiritualidade ecológica”. É isso que temos de viver e de aprofundar em nossas Igrejas.
Faz parte dessa espiritualidade um novo modo de orar (dia de oração). Não se trata de pedir a Deus que resolva os problemas que a ambição humana cria. Seria falso votar em governantes que optam por destruir a natureza e depois pedir a Deus que a proteja. A oração na perspectiva de uma espiritualidade ecológica tem de ser escutar a voz da Terra que grita por socorro, a voz dos pobres, índios, lavradores sem terra e pessoas sem teto que clamam por justiça e acolher a palavra divina que nos manda solidarizar-nos com eles e elas no caminho da ecologia integral e do Bem-viver.