( se quer ver a versão original em italiano, está transcrita logo depois da versão brasileira)
“As raízes de todos os seres vivos estão entrelaçadas. Quando uma árvore é abatida, cai uma estrela do céu. Antes de cortar uma árvore, se deve sempre pedir permissão ao guardião das estrelas”. Estas são as palavras de Chank´in, ancião indígena lacandon, que o teólogo da libertação, o brasileiro Marcelo Barros cita no seu último livro traduzido na Itália: Ecologia e espiritualidade. Nesse livro, a teologia se tona poesia, cântico e hino. E também pranto. Mas principalmente esperança e alegria. É um pensamento vivo e vibrante, capaz de dialogar de forma rigorosa com nossa razão e, ao mesmo tempo, capaz de penetrar no nosso coração e no espírito e falar com a linguagem do amor, da empatia, da comunhão e cooperação sinérgica. “Fazer teologia” – nos mostra Marcelo Barros - não significa assolutamente subir em uma cátedra ou sentar em um banco ou ficar fechado na biblioteca, longe da vida real, mas caminhar juntos no mundo, com alegria e prazer.
Convidado por numerosas associações italianas a apresentar esse livro, Marcelo Barros percorreu recentemente várias regiões da Itália. O seu pensamento e o seu sentir teológico, assim como o de vários outros companheiros, hoje, se concentra em um tema de importância vital para toda a humanidade e para cada pessoa particularmente: a ecologia.
Mas a ecologia – assinala o teólogo do Recife – não significa só o estudo do ambiente ou o respeito da natureza. No sentido mais profundo e como a entende a teologia da libertação, é ecologia o dar respostas às questões sobre o sentido da vida, é ocupar-se da relação entre todas as formas de vida, é o encontro entre a ética, a filosofia, a espiritualidade e o compromisso ambientalista. Enfim, se trata de desenvolver a união de uma intensa experiência individual de contato com a natureza e uma postura crítica e de compromisso na luta pela justiça. Ecologia é a própria forma de viver, pensar o trabalho, o estilo de vida de todo o planeta. Quando falamos de ecologia, pensamos imediatamente no ambiente, mas a ecologia ambiental supõe uma ecologia social, uma sociedade inclusiva, que assuma o fato de que precisa de todos os seus componentes, principalmente daqueles que um sistema social fundado sobre o dinheiro tem marginalizado e excluído. Assim, uma sociedade que considera pessoas como extra-comunitárias, é ela, a própria sociedade que se coloca, paradoxalmente, como “extra-comunitaria”, isto é, ela se coloca fora da comunidade humana que é única e una.
Neste contexto, o que você compreende por espiritualidade?
E’ a capacidade de discernir o Espírito presente em tudo o que existe. É a energia de relação cósmica da qual todos os seres são expressão e que as religiões reconhecem como o amor divino na base dessa grande comunidade que é o universo. Há alguns anos, o grande teólogo Raimon Panikkar inventou o termo ‘cosmoteandrico’. Nós não estamos habituados a unir a espiritualidade e a contemplação com a natureza, com os elementos do firmamento, a terra e a água. Ao contrário, no tempo da colônia, quando os missionários espanhóis quiseram construir a catedral de Cuernavaca no México, tiveram de fazer ao lado uma capela sem teto para os índios, porque estes não podiam orar a Deus sem ver ao menos sobre eles o céu e as estrelas.
Você é um importante membro da teologia da libertação. Um dos “históricos”. Poderia dizer como está hoje esta teologia na América Latina e, em particular, no Brasil?
Nos últimos anos, a Teologia da libertação assumiu uma perspectiva mais mundial. Desde 2003, a Associação ecumênica dos teólogos e teólogas do terceiro mundo (Asett) participa em diversos fóruns mundiais de teólogos/as da libertação, onde se enfrentam temas de amplidão planetária a partir da fé ecumênica e das Escrituras. Hoje, a Teologia da libertação é muito mais ampla e compreende a Teologia feminista, a Ecoteologia, as Teologias indígenas, teologia negras e diversas outras teologias contextuais. No Brasil, depois dos anos 80, a Teologia da libertação manteve o seu compromisso com as comunidades de base, mas se abriu também aos movimentos populares, eclesiais e não eclesiais, como, por exemplo, os movimentos bolivarianos, não eclesiais, mas nos quais estamos inseridos.
Quais são os pontos principais em comum entre a Teologia da libertação e o movimento bolivariano?
O ponto comum fundamental é a opção pelos mais empobrecidos do continente, especialmente os índios e negros. Um outro é a opção pela educação como caminho de libertação, não através da luta armada, mas pelo caminho das eleições normais. Este é um aspecto importante. Por “educação” não compreendemos só a escolarização, que é muito importante e que hoje devemos democratizar. Nos países onde o movimento bolivariano conseguiu chegar ao governo, este processo de democratização está funcionando bem: há mais de três anos, a Venezuela foi declarada pela UNESCO, um país livre de analfabetismo - No Brasil, nós ainda temos 15% de adultos analfabetos. É demais. Mas, devemos compreender educação no sentido mais amplo, como o processo que ajuda as pessoas a se tornarem independentes e a terem um olhar crítico. Paulo Freire dizia que ‘analfabeto é a pessoa que não pode falar, a quem não são reconhecidos os direitos à cidadania, à justiça e à paz’. Também a Teologia feminista foi assumida pela Teologia da libertação. Como homem, eu me considero um teólogo feminista. Estou convencido de que o maior pecado, o mais estrutural dessa sociedade é o sistema patriarcal, do qual nasce também o patriarcalismo religioso eclesial’ imposto em nome da Palavra de Deus.
Como teólogo da libertação, o que pensa do novo Código florestal recentemente proposto e aprovado pela Câmara dos deputados brasileiros que autoriza um maior desflorestamento da Amazônia, com todas as desastrosas conseqüências que isso terá não só para o Brasil, mas para todo o planeta?
É claro que penso que é uma lei péssima. Foi proposta por Aldo Rebelo, que se diz comunista, mas, na realidade, colocou-se a serviço dos latifundiários. No Brasil, essa lei suscitou muitos debates e permitiu crimes ambientais. Se a presidente Dilma Rousseff assinar esta lei (e atualmente, não sei ainda o que ela vai decidir), só nos estados do norte do Brasil, essa decisão causará a perda de mais ou menos 71 milhões de hectares de floresta virgem e a perda da metade das áreas atualmente ainda protegidas. Em nome do chamado ‘capitalismo produtivo’ e dos interesses milionários das multinacionais e dos fazendeiros, a desmatação da Amazônia privará o planeta de um dos seus pulmões mais importantes, representará uma verdadeira tragédia para quatro milhões de famílias que serão expulsas de suas terras (imagine que 1% dos proprietários rurais é dono de quase 50% do território brasileiro), as pequenas e médias propriedades serão diminuídas e se colocará em risco a maior e mais rica rede hídrica da Terra (estima-se que no solo brasilerio, estejam 12% de todas as reservas de água doce do mundo). Por outro lado, no Brasil, estão construindo quase vinte hidro-elétricas no sul e outras no norte. É horrrível. Falam em necessidade energética, mas muitos técnicos mostram que seria mais útil e econômicos projetos menores. Como cristão e teólogo, apoio as organizações dos lavradores e dos indos. Todos os movimentos do campo são contrários a essa lei e os fazendeiros são todos a favor. Então, eu já sei de que parte devo me colocar.
Em seus escritos, você traçou um paralelo interessante e original entre o mundo natural, mondo humano e mundo divino. Assim como na natureza, encontramos a biodiversidade – assim a ‘biodiversidade’ deveria ser o princípio segundo o qual se deve instaurar relações corretas entre os seres humanos, entre os povos e com o próprio mistério de Deus. Você pode esclarecer melhor essa idéia?
Em um recente artigo na revista internacional de teologia, Concilium, falei da ‘biodiversidade’ existente no próprio Deus, uma espécie de hiero-diversidade”. Assim como a vida só existe se houver uma comunhão (não há vida sem conexão das espécies) e quando não há diversidade na natureza, se criam desequilíbrios graves, assim não existe “biodiversidade” entre os seres humanos na sociedade, isto é, interdependência, se criam mal estar social, incompreensão, conflito, injustiça. A própria realidade divina,la ‘estrutura’, por assim dizer, da Vida divina se revela assim: como hierodiversidade. As religiões e as tradições espirituais se fundamentam sobre um só aspecto ou sobre alguns aspectos do Mistério de Deus, mas nenhuma delas consegue chegar a essência completa do divino. Só pelo diálogo e pela acolhida recíproca de cada uma das revelações particulares que as as diversas religiões propõem, só assim, o ser humano pode aproximar-se mais desse mistério divino.
Então, isso significa que todas as religiões são iguais, uma vale exatamente o mesmo que a outra? Nessa perspectiva, não se cai em um relativismo religioso que ensina que qualquer coisa vale?
Em diversas ocasiões, o Dalai Lama tem declarado que a melhor religião, a mais verdadeira é aquela que lhe faz bem, ou seja, aquela que ajuda você a viver melhor a compaixão e a solidariedade. Sem dúvida, isso é uma simplificação. Mas, isso significa que não existe uma religião objetivamente melhor e outra pior. Todas as religiões, enquanto respostas humanas à revelação do amor divino são testemunhas verdadeiras e sinceras de uma particular e pecular revelação divina. Por opção de fé, sou cristão católico, mas como cristão quero aprender sempre das outras religiões.
Como você reage quando se usa a palavra ‘tolerância’ aplicada à religião?
É uma palavra perigosa, em dois sentidos. Normalmente a pessoa tolera o que não pode evitar. Tolerar significa suportar. Nesta linha de compreensão, tolerância não pode ser o modelo de relação entre as religiões. Se, diferentemente, tolerância se compreende como uma atitude de colaboração, respeito e acolhimento recíproco e como colaboração fraterna para enfrentar juntos as grandes causas humanitárias, aí sim, é certo que se pode usar o termo. Em 1992, a Assembléia do Povo de Deus em Quito, no Equador, elaborou o conceito de ‘macro-ecumenismo’, alargando a espiritualidade ecumênica que até então só se usava para o ecumenismo entre Igrejas cristãs. Na América Latina, queremos que as Igrejas cooperem com outros grupos religiosos no enfrentamento dos enormes desafios que tocam a todos os povos do continente. Macro-ecumenismo não visa uma unificação das religiões, assim como o ecumenismo não pretende que haja uma só Igreja cristã. O que se deseja é a comunhão e praticamente a cooperação entre elas.
Você acha que o Concílio Vaticano II esteja superado? As sociedades, o progresso tecnológico, tudo isso está imprimindo à vida atual uma velocidade nunca vista e colocando novos desafios. Diante disso, você concorda com o grupo que sugere que a Igreja Católica está precisando de um novo Concílio?
O Concílio Vaticano II não foi somente a assembléia dos bispos que se reuniu há 50 anos, mas o Concílio é também a experiência concreta dos bispos e das Igrejas e todo o processo que sucedeu ao Concílio na forma de receber e pôr em prática os documentos do Concílio. Houve um primeiro momento de entusiasmo, acolhimento e de grande fermento (sinais dos tempos como o surgimento das comunidades eclesiais de base, a promoção do laicato, abertura aos problemas do mundo). Parecia que, ali, a Igreja conseguiu dar um salto em seu caminho. Depois, a Cúria romana conseguiu imprimir um bloqueio e freou o dinamismo que se tinha iniciado na Igreja. Hoje, a Cúria interpreta o Vaticano II de modo que impeça qualquer mudança. O processo que antes aconteceu de recepção aberta dos documentos conciliares foi sufocado. Penso que João Paulo II comandou este movimento de conservadorismo. Ele fez isso, enquanto mostrava certa abertura ao mundo e, em alguns aspectos, boa capacidade de escuta. Hoje, ao contrário, do ponto de vista teológico e ecumênico, estamos vivendo um inverno, um momento de asfixia.
Conforme você pensa: do que depende este “inverno’ da Igreja Católica?
Esse inverno é fruo do medo, medo do mundo, da vida, da sexualidade, do comunismo, embora, hoje, os riscos sejam outros.
Você é natural da diocese de Olinda e Recife. Conheceu bem e foi um dos colaboradores de Dom Hélder Câmara que todos recordam como um dos bispos mais amados do mundo. O que ainda resta, hoje, da herança de Dom Helder Câmara?
Se você quer saber no Recife, depois de um longo e rigoroso inverno, devido à linha do arcebispo anterior que foi o sucessor de Dom Hélder e fez questão de eliminar toda a linha pastoral do seu antecessor, atualmente, ou seja há mais de um ano, a arquidiocese de Olinda e Recife recebeu um novo arcebispo e as coisas melhoraram. Dom Fernando Saburido é um homem de grande humanidade, aberto ao diálogo. Não toma posições fortes, mas é próximo às pessoas e isso é o mais importante.
Laura Ferrari
+ Sul nuovo Codice forestale si veda anche l’articolo di Frei Betto Il Brasile rurale: uccidere e deforestare (website: http://www.prensa-latina.it/index.php) (ndr)
Intervista a Marcelo Barros
(Aqui está em italiano)
Le radici di tutti gli esseri viventi sono intrecciate. Quando un maestoso albero è abbattuto, cade una stella dal cielo. Prima di tagliare un albero, si dovrebbe chiedere il permesso al guardiano delle stelle. Sono le parole di Chank’in, un anziano indigeno lacandon, che il teologo della liberazione brasiliano p. Marcelo Barros cita nel suo ultimo libro, Ecologia e spiritualità. L’amore feconda l’universo. In questo libro la teologia si fa poesia, canto, inno. E pianto. Ma anche speranza e gioia: pensiero vivo e vibrante, capace di dialogare in maniera rigorosa con la nostra ragione e, ad un tempo, di penetrare nel nostro cuore, nello spirito per parlare con il linguaggio qui più consono: il linguaggio dell’amore, dell’empatia, della comunione/cooperazione sinergica. “Fare teologia” – ce ne dà un’ennesima dimostrazione p. Barros - non significa assolutamente salire in cattedra o sedere in un banco, o stare chiuso in biblioteca avulsi dalla vita reale (pregiudizio che resiste tuttora), ma camminare insieme nel mondo, con gioia e piacere.
Invitato da numerose associazioni a presentare questo libro, scritto insieme a p. Zanotelli e pubblicato nel 2010, p. Barros, ha recentemente percorso il nostro paese. Il suo pensiero e il suo “sentire” teologico (così come quello di tanti altri), si è oggi concentrato su un tema di importanza vitale per l’umanità intera e per ciascuno di noi singolarmente: l’ecologia. Ma ‘ecologia’ – puntualizza il teologo di Recife - non significa solo ‘studio dell’ambiente’ o ‘rispetto della natura’: in senso ben più profondo, e come la intendo nella prospettiva della Teologia della liberazione, è ecologia il dare risposte alle domande sul senso della vita, è occuparsi del rapporto tra tutte le forme di vita, dell’incontro tra etica, filosofia, spiritualità e impegno ambientalista, al fine di sviluppare l’unione di un’intensa esperienza individuale di contatto con la natura con un atteggiamento critico e impegnato nella lotta per la giustizia. Ecologia è la forma stessa di vivere, di pensare il lavoro, lo stile di vita dell’intero pianeta. Quando parliamo di ecologia pensiamo subito all’ambiente, ma un’ecologia ambientale richiede una “ecologia sociale”, una società inclusiva, che senta di avere bisogno di tutte le particelle che la compongono, anche di quelle che un sistema fondato sul denaro come quello che abbiamo costruito finora ha emarginato, rifiutato e negato. Ad esempio, una società che considera delle persone come extracomunitarie, è essa stessa, paradossalmente, “extracomunitaria”, cioè si considera fuori dalla comunità degli uomini, che è una e unica.
Che cosa intende per ‘spiritualità’, in questo contesto?
E’ la capacità di discernere lo Spirito presente in tutto quello che esiste, quell’energia di relazione cosmica di cui tutti gli esseri sono espressione e che le religioni riconoscono come l’amore divino alla base di questa grande comunità che è l’universo. Alcuni anni fa il teologo Panikkar ha coniato il termine ‘cosmoteandrico’. Noi non siamo stati abituati ad unire la spiritualità e la contemplazione con la natura, con gli elementi, con il cielo fisico. Ad esempio, la cappella che c’è a Cuernavaca (Messico) gli indios l’hanno voluta senza il tetto perché dicono che non riescono a pregare Dio senza vedere nemmeno il cielo sopra di loro.
Lei è un importante, “storico” esponente della Teologia della liberazione: ci può fare il punto di questa Teologia oggi in America Latina e, in particolare, in Brasile?
La Teologia della liberazione negli ultimi anni ha assunto una prospettiva più mondiale. Dal 2003 l’Associazione ecumenica dei teologi e delle teologhe del terzo mondo (Asett) partecipa a diversi forum mondiali di teologi della Liberazione, dove vengono affrontati temi di portata planetaria a partire dalle letture che questa Teologia fa delle S. Scritture. Oggi la Teologia della liberazione è molto più ampia e comprende la Teologia femminista, l’Ecoteologia, la Teologia degli indios, la teologia dei neri e diverse altre teologie contestuali. In Brasile la Teologia della liberazione dopo gli anni ’80 ha avuto un cammino quasi indipendente dalle comunità di base: ha, sì, approfondito il suo impegno nelle comunità di base, ma si è aperta anche ai movimenti popolari ecclesiali e non ecclesiali, come ad esempio il movimento bolivariano, non ecclesiale ma nel quale siamo inseriti.
Quali sono in principali punti in comune che la Teologia della liberazione ha con il movimento bolivariano?
Il punto comune fondamentale è l’opzione per i più poveri del continente, specialmente gli indios e i neri; un altro è l’opzione per l’educazione come cammino di liberazione rivoluzionario, non attraverso la lotta armata né attraverso le lotte politiche elettorali. Questo è un aspetto importante. Per “educazione” non intendo solo la scolarizzazione, che pure è molto importante e che oggi dobbiamo democratizzare. Nei paesi dove il movimento bolivariano è riuscito ad andare al governo questo processo di democratizzazione sta funzionando bene: il Venezuela è stato dichiarato tre anni fa dall’UNESCO paese libero - uso non a caso questo termine - dall’analfabetismo. In Brasile invece gli adulti analfabeti sono ancora il 15%. Troppi. Ma io intendo ‘educazione’ nel senso più ampio, come quel processo che aiuta le persone a diventare e ad essere indipendenti, ad avere uno sguardo critico. Paulo Freire dice che ‘analfabeta è colui che non può parlare, al quale non sono riconosciuti i diritti alla cittadinanza, alla giustizia e alla pace’. Anche la Teologia femminista è stata assunta dalla Teologia della liberazione. Pur essendo un uomo, Io mi considero un teologo femminista: sono convinto che il peccato più grosso, più strutturale di questa società è il sistema patriarcale, da cui nasce anche il ‘patriarcato religioso ecclesiale’ imposto in nome della Parola di Dio.
Come teologo della liberazione, cosa pensa del nuovo Codice forestale recentemente proposto e approvato dalla Camera brasiliana, che autorizzerebbe l’ulteriore deforestazione dell’Amazzonia, con tutte le conseguenze disastrose che essa comporterebbe non solo per il Brasile, ma per l’intero pianeta?
Ovviamente penso che si tratta di una legge pessima*. E’ stata proposta da Aldo Rebelo, che dice di essere comunista ma che in realtà è al servizio dei latifondisti. In Brasile questa legge ha suscitato molti dibattiti e fomentato anche diverse uccisioni di attivisti ambientalisti. Se la presidente Dilma Rousseff firmerà questa legge (e attualmente io non so che cosa deciderà), soltanto negli stati del nord del Brasile questa disposizione causerà la perdita di circa 71 milioni d’ettari di selva vergine e la perdita di metà delle aree protette. In nome del cosiddetto ‘capitalismo produttivo’ e degli interessi miliardari di multinazionali e di privati, il disboscamento dell’Amazzonia priverà il pianeta di uno dei suoi polmoni più importanti, rappresenterà una vera tragedia per 4 milioni di famiglie che verranno espulse dalle loro terre (si pensi che l’1% dei proprietari rurali è padrone del 50% del territorio brasiliano), le piccole e medie proprietà saranno spazzate via e sarà irrimediabilmente intaccata anche la più vasta e ricca rete idrica della Terra (si stima che nel solo Brasile vi sia oltre un decimo delle riserve mondiali di acqua dolce). Inoltre in Brasile stanno costruendo 17 dighe nel sud e altre dighe nel nord. E’ una cosa orribile. Dicono che è una questione di fabbisogno energetico, ma gli stessi tecnici dicono che sarebbe più utile fare progetti più piccoli. Il Codice forestale brasiliano attualmente in vigore impone ai latifondisti di mantenere una sorta di “riserva legale” di foresta pari all’80% della copertura forestale delle loro proprietà che non può essere abbattuta, anche se la maggior parte degli agricoltori di fatto non rispettano questa norma. In tre decenni è stata abbattuta un’area di foresta grande quanto la Francia. Io, anche come cristiano e come teologo, appoggio le organizzazioni dei contadini e degli indios. Tutti i campesinos sono contrari a questa legge e i latifondisti sono tutti a favore: io allora so già da che parte stare…
Nei suoi scritti ha tracciato un parallelo interessante e originale tra mondo naturale, mondo umano e mondo divino: come nella natura troviamo la biodiversità – che oggi in Italia come altrove pare “riscoperta” e tutelata con varie iniziative (anche se in realtà non c’è niente di nuovo in essa ma, anzi, è un ritorno all’antico) - così la ‘biodiversità’ dovrebbe essere il principio secondo cui instaurare rapporti corretti tra gli esseri umani, tra i popoli e con lo stesso Mistero di Dio. Può sintetizzare questa idea?
Ho parlato di ‘biodiversità’ in Dio stesso, di una “iero-diversità”. Così come la vita esiste se c’è la comunità delle specie e quando non c’è biodiversità in natura si creano squilibri molto grandi, così se non c’è “biodiversità” tra gli esseri umani nella società, e cioè interdipendenza, si creano malessere sociale, incomprensione, conflitto, ingiustizia. La stessa realtà divina, la ‘struttura’, per così dire, della Vita divina si rivela così: come iero-diversità. Le religioni e le tradizioni religiose si fondano su un solo aspetto o su alcuni aspetti del Mistero di Dio, ma nessuna ne coglie completamente l’essenza. E’ solo dal dialogo e dall’accoglienza reciproca delle singole rivelazioni che le diverse religioni propongono che l’uomo può forse avvicinarsi a questo Mistero.
Allora tutte le religioni sono uguali, l’una vale l’altra? In questa prospettiva non c’è il rischio di cadere in un qualunquismo religioso?
Il Dalai Lama in diverse occasioni ha detto che la religione ‘più vera’ è quella che ‘ti fa più bene’. Certo, questa è una semplificazione. Intendeva dire che non c’è una religione oggettivamente ‘migliore’ e un’altra ‘peggiore’. Io penso che non c’è un’unica religione ‘vera’, ma tutte le religioni lo sono, in quanto sono vive e sono testimonianze vere e sincere di una particolare e peculiare rivelazione divina. Per appartenenza sono cristiano cattolico, ma come cristiano voglio imparare anche dalle altre religioni.
Che cosa suscita in lei la parola ‘tolleranza’ applicata alla religione?
E’ una parola pericolosa, a doppio taglio: tollero ciò che non posso evitare, cioè lo sopporto. Le religioni non possono avere un rapporto di tolleranza, in questa accezione, tra loro. Se invece per tolleranza si intende un atteggiamento di collaborazione, di rispetto, di accoglienza reciproca e di cooperazione fraterna per affrontare insieme le grandi cause umanitarie, è certo auspicabile. Nel 1992 l’‘Assemblea popolare’ di Quito, in Ecuador, è giunta ad elaborare il concetto di ‘macroecumenismo’, allargando la spiritualità ecumenica che fino ad allora si limitava all’ecumenismo cristiano. Noi in America Latina vogliamo far cooperare le chiese al fine di affrontare le enormi sfide che toccano tutti i popoli di questo continente. Non si punta ad una unificazione ma alla cooperazione.
Il Concilio Vaticano II secondo lei è superato? Le società, il progresso tecnologico, il grande movimento di singoli e di interi popoli da un emisfero all’altro e altre questioni stanno imprimendo alla vita una velocità mai vista prima e ponendo nuove sfide. E’ d’accordo con chi suggerisce che nella Chiesa cattolica ci sarebbe bisogno di un nuovo Concilio?
Il Concilio Vaticano II non è stato solo l’assemblea dei vescovi di 50 anni fa, ma con questa definizione si intende anche il vissuto concreto dei vescovi e tutto il processo successivo di ricezione dei documenti conciliari. C’è stato un primo momento di entusiasmo, di accoglienza, di grande fermento (i ‘segni dei tempi’, l’attenzione alle comunità ecclesiali locali, al laicato, ai problemi del mondo…) e qui la Chiesa universale è riuscita a prendere uno slancio. Poi la Curia romana ha cominciato ad imprimere un rallentamento e a frenare il dinamismo che era iniziato all’interno della Chiesa. Oggi, io penso, la Curia romana interpreta il Vaticano II in modo tale da impedire ogni cambiamento: il processo prima fecondo della ricezione dei documenti conciliari è stato soffocato. Giovanni Paolo II – secondo la mia opinione - ha avviato questo processo di ‘frenata’, anche se ha dimostrato una grandissima apertura verso il mondo e tutti i popoli e una straordinaria capacità di ascolto. Oggi invece, dal punto di vista ecumenico ecclesiale e teologico, stiamo vivendo un inverno, una stasi, una sorta di asfissia.
Secondo lei da cosa dipende questo ‘inverno’ della nostra Chiesa cattolica?
E’ frutto della paura: paura del mondo, della vita, della sessualità, del comunismo (anche se la storia ci insegna che ben altri sono i rischi oggi, sono altre le sfide, non il comunismo!).
Lei è della diocesi di Recife, è entrato a 18 anni in un monastero benedettino di Recife, ha conosciuto bene ed è stato stretto collaboratore di dom Helder Camara, che ricordiamo come un vescovo tra i più amati e illuminati del Brasile. Cos’è rimasta dell’eredità di dom Camara oggi?
Dopo un lungo e rigido inverno, dovuto alla pastorale dell’arcivescovo precedente che l’aveva impostata in maniera del tutto diversa, quasi opposta a quella di Camara, da quando è arrivato mons. Josè Cardoso Sobrinho (cioè da un anno e mezzo), le cose sono migliorate. Mons. Sobrinho ha mostrato una grande umanità, è aperto ai contatti umani e al dialogo; non è un teologo, non prende posizioni profetiche ma è vicino alla gente.
Durante la prosecuzione del viaggio in Italia di p. Marcelo Barros, i giornali hanno pubblicato una bella notizia sul Brasile: lo stop alla costruzione della gigantesca diga idroelettrica di Belo Monte, che sarebbe stata la terza più grande diga del pianeta. Questo progetto, che sarebbe costato 11 miliardi di dollari e che era osteggiato da ben 13 tribù indios e da numerosi movimenti ambientalisti, alla fine è stato bloccato dal Tribunale federale dello Stato di Parà (Amazzonia) suscitando grandi entusiasmi tra gli abitanti della regione e non solo. La speranza è che questo rappresenti un primo passo verso la cultura dell’“uni-verso cooperativo [in cui] tutti gli esseri sono interdipendenti [e in cui] la legge guida non sia la sopravvivenza del più forte, ma la sinergia, la capacità di essere simbiotici, cioè la capacità di entrare in relazione con tutti (...), in una vera biocrazia e democrazia cosmica” (Leonardo Boff).
Laura Ferrari
+ Sul nuovo Codice forestale si veda anche l’articolo di Frei Betto Il Brasile rurale: uccidere e deforestare (website: http://www.prensa-latina.it/index.php) (ndr)
Marcelo Barros, 66 anni, benedettino brasiliano, teologo della liberazione e biblista. Entra nel monastero benedettino di Recife a 18 anni. Dal 1967 al 1969, senza staccarsi dal monastero, vive come membro di una comunità ecumenica, abitando con i fratelli di Taizè a Olinda. Ordinato sacerdote nel 1969 dall'arcivescovo dei poveri, dom Helder Câmara, di cui diviene stretto collaboratore della pastorale giovanile e l'ecumenismo. Dopo aver passato vari anni nel monastero di Recife si sposta in quello di Curitiba per poi fondare, 30 anni fa, insieme ad altri monaci, il monastero dell'Annunciazione a Goiás, nel centro del Brasile.
E' stato tra i fondatori del CEBI, centro studi biblico, assessore della Commissione Pastorale della Terra (C.P.T.) e della Comunità Ecclesiali di Base (C.E.B.s); espressioni della Conferenza Nazionale dei Vescovi Brasiliani (C.N.B.B.) è membro dell'associazione ecumenica dei teologi del Terzo Mondo-Asett. Settimanalmente scrive un articolo per vari quotidiani brasiliani su spiritualità ecumenica e le sfide della vita. Ha scritto 45 libri, dei quali 12 pubblicati in Italia.
L'ultimo, "Ecologia e Spiritualità" scritto a quattro mani con padre Alex Zanotelli, è dello scorso anno. Molto famoso è "Il sapore della libertà”. Naturalmente sono tutti libri che noi abbiamo a disposizione come Rete Radié Resch, basta farne richiesta usando i contatti qui a sinistra.
Un po’ di tempo fa è uscito un suo nuovo scritto: “Il baule dello scriba”, commento al Vangelo di Matteo.