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Espiritualidade transformadora

O projeto divino de transformar tudo


                           Mercedes Sosa cantava que “Todo cambia”. Essa canção do compositor chileno Julio Numhauser (nao confundir com “Solo le pido a Dios” – do argentino Leon Gieco) afirma que Deus quer mudar tudo. No entanto, parece que setores importantes das diversas religiões ensinam o contrário. Em nome de Deus, pastores e ministros que se dizem cristãos defendem as mais retrógradas e fechadas posturas morais e sociais. É verdade que isso não, é em si, novidade. No decorrer da História, líderes de diversas religiões defenderam a escravidão, o racismo, a violência contra quem não crê como eles, pena de morte e até que se façam guerras contra outros povos. Se Deus fosse como alguns bispos e pastores o apresentam, egoísta, prepotente, homofóbico, cruel com quem não crê e pouco sensível à justiça, nós deveríamos pregar o ateísmo e lutar contra o mal terrível que, para a humanidade, seria a religião. De fato, a um rapaz que lhe disse: “eu sou ateu”, o bispo profeta Pedro Casaldáliga perguntou: “De qual Deus, você é ateu? Porque, dependendo de qual deus se trata, eu também sou”. 

Somos discípulos de Jesus, que, embora sempre profundamente fiel à fé e à espiritualidade judaica mais profunda, lutou contra a religião dos sacerdotes e doutores do templo de Jerusalém e denunciou os chefes religiosos do seu tempo como hipócritas.  

Em um mundo no qual governos que usam o nome de Deus são menos humanos e menos solidários do que os que se dizem ateus, o Papa Francisco propõe uma forma nova de sermos testemunhas de Deus. Em uma das sessões do Sínodo dos bispos, o papa afirmou:  “Deus não tem medo de mudanças. Ele gosta de novidade”. 

Em outubro deste ano, se completarão dez anos da primeira vez em que um papa reuniu no Vaticano líderes de movimentos populares de todo mundo. Queria escutá-los e se colocar junto deles e delas na caminhada de transformação do mundo. Infelizmente, padres e bispos que imitam papas quando esses tomam atitudes dogmáticas e rígidas, não seguem o exemplo do bispo de Roma que se coloca à escuta de organizações sociais, cristãs e não cristãs, para melhor servir à humanidade. 

As tradições espirituais têm como meta construir a morada divina no mais profundo do ser humano, como semente para transformar as estruturas do mundo. Enquanto a religião se mantiver como algo apenas exterior e não transforme o coração de cada pessoa, não poderá atingir a sua meta. O projeto divino é um mundo renovado na base da justiça, paz e cuidado com a natureza. Quem se coloca como testemunha desse projeto divino se torna, desde já um ser humano renovado. Simone Weill, mística francesa, afirmava: “Conheço quem é de Deus não quando me fala de Deus, mas por sua forma solidária e amorosa de se relacionar com as outras pessoas”. Só quando nos colocamos com mais decisão no caminho da nossa conversão interior e da transformação social e política do mundo, podemos dizer:  estamos em Deus e Deus em nós. O amor divino é a fonte de nossa capacidade de amar. Assim,  mesmo em meio a todas as lutas da vida, podemos respirar esperança e alegria.  

 

    

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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