Estes dias que dão o que pensar
É claro que, para quem é como sou, acontecerá o que ocorreu quando, conforme Marcos, Jesus chamou os discípulos para descansarem em um lugar retirado (Mc 6, 30ss). Quando chegaram no tal lugar do retiro, já encontraram a multidão que os esperava.
Mas, em minha oração da madrugada de vigília pergunto a Deus por que? E descubro que acordo de manhã com medo de ligar telefone, de ler os e-mails e ver o zap. Quem partiu hoje e quem está para partir amanhã. Quem será o próximo e o que dizer ou como reagir...
Ontem foi um amigo querido – Frederico Arruda – Fred – ou o chamávamos de Ferinha - com o qual morei quatro ou cinco anos na Casa da Fraternidade (quando éramos jovens). E todo dia é assim. Até quando, meu Deus?
Nestes dias, tento seguir, à medida que posso, as atividades virtuais do Fórum Social Mundial e dentro deste do Fórum Mundial de Teologia e Libertação. Servem um pouco para nos fazer olhar com esperança para um amanhã no qual não esperaremos o sol nascer. Vamos tentar apressar o amanhecer.
E de repente encontro em alguma das mensagens que me mandam este poema escrito há mais de 200 anos e em um contexto bem diferente e me sinto como se o tivesse escrevendo agora:
Quando a tempestade passar,
as estradas se amansarem,
E formos sobreviventes
de um naufrágio coletivo,
Com o coração choroso
e o destino abençoado
Nós nos sentiremos bem-aventurados
Só por estarmos vivos.
E nós daremos um abraço ao primeiro desconhecido
E elogiaremos a sorte de manter um amigo.
e de uma vez aprenderemos tudo o que não aprendemos.
Não teremos mais inveja pois todos sofreram.
Não teremos mais o coração endurecido
Seremos todos mais compassivos.
Valerá mais o que é de todos
do que aquilo que nunca consegui.
Seremos mais generosos
E muito mais comprometidos
e o que significa estarmos vivos!
Vamos sentir empatia por quem está
e também por quem se foi.
Sentiremos falta do velho que pedia esmola no mercado,
que nós nunca soubemos o nome
e sempre esteve ali ao nosso lado.
E talvez o velho pobre fosse Deus disfarçado...
Mas você nunca perguntou o nome dele
Porque estava com pressa...
E a vida que ganhamos será respeitada!
Quando a tempestade passar
Eu te peço Deus, com tristeza ,
Que você nos torne melhores.
como você "nos" sonhou.
(K. O ' Meara - Poema escrito durante a epidemia de peste em 1800)