Fazer teologia da libertação a partir das novas resistências e esperanças de nossos povos. Esse é o tema do encontro intergeneracional que, desde o dia 11 de outubro até hoje, 14, a associação teológica Amerindia realiza na cidade de Puebla, no México. Aqui estão reunidos uns 45 teólogos e teólogas de muitos países da América Latina e Caribe. Mais ou menos a metade é constituída de teólogos/as jovens (entre 30 e 45 anos) e a outra metade, de pessoas mais velhas, sendo vários com mais de 70. Aqui estão, entre os mais velhos, Pedro Trigo (Venezuela), Juan Fernandes Pico (Guatemala) Leonardo Boff (Brasil), Víctor Codina (Bolívia), Pablo Richard (Costa Rica). Entre os/as mais jovens, Francisco Bosch (Argentina), Geraldina Céspedes (Guatemala), Tirsa Ventura (San Domingos), Aquino Júnior (Brasil) e ainda a alegria de ter conosco Daniel Souza, de São Paulo, o mais jovem de todo o grupo. Gostaria de citar ainda Juan José Tamayo, 76, que veio de Madri para nos acompanhar e estar conosco nesses dias.
Estar com esse grupo já é para mim
uma riqueza e uma constante fonte de aprendizado e aprofundamento da vida e do
compromisso de fé. O novo desse encontro
é esse diálogo que junta sempre alguém da geração mais velha, como eu, e um dos
irmãos ou irmãs mais novos. Vou contar aqui alguma coisa do primeiro dia do encontro que marcou o todo de nossos diálogos.
A pergunta que percorre todas as
conversas foi como fazer uma teologia da libertação que valorize e explicite a
dimensão espiritual (teologal) da resistência e da esperança que existe no meio
das lutas de resistência dos nossos povos.
O primeiro dia começou por um painel,
do qual fui um dos participantes. Pediram que descrevêssemos um pouco a
realidade de vários países da América Latina e como os movimentos sociais
organizados e as comunidades de periferia estão resistindo e se contrapondo ao
ataque cruel do império. Minha função foi falar sobre o Brasil e intitulei a
minha fala como “A gravidez perigosa de uma sociedade doente”. Partindo desde o
início da fé cristã, tomei esse título de uma palavra de Jesus no evangelho de
João. Ao falar de sua paixão, Jesus afirmou: “Quando está para dar a luz a
mulher sofre e sente dores porque chegou a sua hora, mas quando a criança nasce
ela se alegra de ter posto no mundo uma vida nova” (Jo 16, 20 ss).
É claro que não é fácil ver as lutas
do povo como dores de parto, mas como explicar a resistência das comunidades
dos morros do Rio, ocupados pela polícia, ou os grupos jovens de hip-hop e
música funk, assim como as mídias alternativas sem ver nelas a inspiração e
sopro do Espírito?
Gostei de escutar de Sofia Chipana a
sensibilidade dos povos indígenas da Bolívia e como a recuperação de suas
espiritualidades tradicionais são instrumentos de resistência e de energia nova
de vida. Também Sílvia Regina, brasileira negra que vive em Costa Rica me
ajudou ao falar da espiritualidade afro com tanto amor e carinho que me senti
chamado a aprofundar mais e mais esse caminho no qual já estou inserido.
Aprendi muito com o diálogo que vem depois. Principalmente foi para mim uma
lição quando escutei Daniel Souza (30 anos) nos dizer (e eu tomei bem para
mim): “Cuidado em não passar depressa demais à esperança, sem aceitar descer
até o fundo do poço e viver com o povo o sofrimento, a falta de perspectivas e
a opressão que amarga o dia a dia da vida da maioria”.
Lembrei-me de como a espiritualidade do
esvaziamento de Jesus (kenosis) e
mesmo do Espírito que desaparece nas realidades da vida do povo, mas está lá
dando força de amor precisa ser vivida assim no chorar juntos para então poder
juntos se consolar e se confortar.