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Festa da Maternidade de Maria.

1º de janeiro: Oitava do Natal – 

                                     Festa da Maternidade de Maria – Lc 2, 15- 21. 

No 1º de janeiro, oitavo dia da festa do Natal, cada ano, a Igreja repete o evangelho que conta que, na noite do Natal, assim que os anjos se foram, os pastores se dirigiram ao local que o mensageiro de Deus indicou. Foram visitar o menino nascido em Belém. E o evangelho nos chama para nos unir aos pastores que “louvam a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto, como lhes fora anunciado”.

Hoje, podemos concluir essa festa do Natal que durou oito dias, contemplando o que escutamos, a partir do anúncio da Palavra e do que podemos testemunhar de como o Natal de Jesus continua em nós e no mundo. 

Hoje, nossa atenção vai sobretudo para o verso final desse evangelho que lemos, hoje: “E, quando se completaram os oito dias para circuncidar o menino, foi-lhe dado o nome de Jesus, que pelo anjo lhe fora posto, antes de ser concebido” (v. 21). 

É através do rito da circuncisão que Jesus se torna membro efetivo do povo da aliança feita com Abraão (Gn 17, 10- 11). É pelo corte feito no seu membro sexual, na expressão maior da intimidade do menino, que se expressa que ele pertence a Deus. É como se Deus tatuasse o seu próprio nome, marcasse com um sinal de pertença aquilo que a pessoa tem de mais íntimo e mais seu: o corpo em sua nudez, a sexualidade como identidade pessoal. Claro que a circuncisão é um rito ligado à sociedade patriarcal. Privilegia o masculino. No entanto, à medida que Jesus se assume como membro do povo judeu, abre a aliança divina a toda a humanidade e até ao universo e faz com que “homens e mulheres, todos e todas, sejamos iguais e como uma coisa só” (Gl 3, 28). 

Esse evangelho alude à circuncisão, mas fala pouco desse rito. Parece sublinhar mais o nome: “dão-lhe o nome de Jesus. (Ieoshuá: Deus salva), como o anjo tinha indicado”. É na força desse nome que Jesus vai viver toda a sua vida a serviço das pessoas, como testemunha do Amor Divino. “Esse é o nome pelo qual as pessoas serão salvas” (At 2, 21). É o nome pelo qual o projeto divino se realizará e pelo qual o inimigo divisor será vencido (Lc 10, 17). 

 

Para nós, o desafio é que, no decorrer da história, muitas vezes, o nome de Jesus, que significa salvação e libertação, foi usado para a conquista e para legitimar opressões. Infelizmente, em nossos dias, muitas pessoas e mesmo ministros usam o nome de Jesus para atacar outras religiões, para legitimar discriminações sexuais, morais, raciais e para abençoar armas e apoiar projetos políticos opressivos. Por isso, é muito importante o fato de que, há mais de 50 anos, os papas tenham proposto dedicarmos esse dia 1º de janeiro à oração e à meditação sobre a Paz do mundo. Cada ano, o Dia Mundial da Paz tem um tema próprio. No entanto, seja qual seja, o fato é que não se construirá a Paz, sem profundo respeito à diversidade das culturas e à liberdade religiosa e espiritual. 

Já vimos que, ao circuncidar o menino Jesus no oitavo dia, os pais o inserem na cultura do seu povo (judeu) e oficializam que o seu nome e sua missão é ser Jesus, isso é, instrumento de salvação divina, mas através da inserção na sua cultura humana e religiosa. Assim sendo, esse evangelho pede de nós duas atitudes complementares: a primeira é assumirmos toda cultura humana, na qual somos chamados/as a nos inserir, assim como Jesus assumiu a cultura do seu povo. 

Infelizmente, no Brasil e em toda a América Latina, o Cristianismo trazido pelos colonizadores europeus não soube respeitar as culturas dos povos originários e das comunidades negras. Ao contrário, por causa de uma leitura fundamentalista de alguns textos bíblicos, as desprezaram como idolatria e como cultos demoníacos. Temos com estas culturas imensa dívida histórica e moral. 

A segunda atitude ao qual esse evangelho nos chama é testemunhar que se o nome de Jesus significa “Deus salva”, só se pode usar o nome de Jesus se for para o amor e a libertação e não para controle, coerção e projetos de ódio e de discriminações.

Desde os primeiros séculos, no Ocidente, as Igrejas cristãs consagravam o 1º de janeiro a uma festa que centra nossa atenção na figura de Maria, mãe de Jesus. Maria, como figura da comunidade de fé que escuta a Palavra, acolhe no coração e a rumina. Esse evangelho diz claramente: “Maria guardava todas estas coisas, conferindo-as em seu coração” (v. 19). Como Maria, somos chamados/chamadas a viver esta ruminação da Palavra que se faz carne em nossas vidas e na vida do universo. 

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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