Marcelo Barros
Hoje, é a festa do Corpo
e Sangue de Cristo. E penso no fato de que nestes dias, estamos todos e todas
em suspenso, exigindo e esperando respostas sobre o desaparecimento dos dois
companheiros na Amazônia (Bruno e Don), sobre o assassinato de indígenas que
continuam em escalada e lidando com as pessoas que se acotovelam em ônibus e no
comércio e, ao mesmo tempo, as notícias avisando de que há novo surto de Covid
e várias pessoas próximas testando positivo.
Às vezes, até agora,
ainda há pessoas que me perguntam: Como você consegue conviver e seguir
inserido na Igreja Católica, tal qual ela é ou está? E eu respondo: Bom, tenho
de, primeiramente, olhar para meus próprios pecados e fragilidade e aí convivo
com a dos outros. E, para mim, ser Igreja e ser de Igreja não é ser membro de
uma instituição internacional. É pertencer a uma comunidade de fé (que está
nesta comunhão católica) e viver a fé junto com as pessoas concretas que sao
para mim o Corpo de Cristo e a presença de Cristo e aí me coloco sim em profunda
sintonia e comunhão na graça mas também na fragilidade e nos problemas a
enfrentar.
Na Igreja Católica, como
ela é hoje, uma das minhas mais difíceis provas e dificuldades é lidar com o
modo como a Igreja ainda mantém a Ceia de Jesus transformada em culto
sacrificial e clerical, que, às vezes, parece mais uma cerimônia de corte
medieval do que o ato de amor no qual Cristo se entregou a nós. Daqui a pouco,
vou visitar o pequeno "Mosteiro do Discípulo Amado" na periferia do
grande Recife (Bairro do Planalto - Abreu e Lima), coordenado pelo irmão João
Batista de quem sou amigo há bem mais de 50 anos. E ali sim junto com pessoas
da vizinhança e os irmãos e irmãs que formam aquela comunhão, viveremos o
Ágape, a ceia de Jesus, no rito romano normal, mas no estilo evangélico da
comunhão do discipulado de iguais...
Essa festa de hoje
(Corpus Christi) me traz recordações afetivas da infância em Camaragibe.
Lembra-me a procissão com o Santíssimo Sacramento pelas ruas, a banda de música
e a emoção que era ouvir a campainha e participar da bênção do Santíssimo.
Minhas irmãs contam que quando crianças queriam muito ser escolhidas pelas
irmãs do Colégio para serem anjos na procissão, mas eram morenas demais e nao
tinham olhos azuis. Só podiam ser anjos na procissão meninas brancas e
louras...
Estou no Recife onde a arquidiocese prepara o XVIII Congresso Eucarístico. É claro que congresso eucarístico tem no seu DNA o modelo tridentino de uma Igreja Cristandade que hoje nao canta mais como em 1939 "Quem não crê brasileiro não é, quem nao crê brasileiro nao é". Mas, até que ponto o tema escolhido por Dom Fernando "Pão em todas as mesas" será mesmo o eixo e o enfoque central do Congresso... e que Deus nos ilumine e nos conduza para fazermos cada vez mais com que toda a Igreja e todas as Igrejas sejam um permanente congresso das pessoas todas de uma eucaristicidade que se espalhe pela vida inteira e por todas as dimensões da vida e possamos ser pão uns para os outros para sermos de fato Corpo e Sangue de Cristo no mundo.