Independente da lenda, esse relato possibilitou um Cristianismo indígena e principalmente um relato teológico e espiritual que diz: Deus está do lado do índio e do oprimido. A aparição de Maria a Juan Diego tem muitos aspectos semelhantes à manifestação de Deus a Moisés na sarça ardente chamando o povo ao Êxodo da libertação. Infelizmente, a hierarquia oficial se apoderou do templo que construiu, controla o que gosta e o que não gosta, cerceou profundamente no templo o lugar do clero e do poder e o lugar do povo e reduziu a mensagem a um intento de trazer os índios à Igreja Católica. Nos nossos dias, o Sínodo da Amazônia deixou claro que a missão não consiste em trazer os índios à Igreja e sim levar a Igreja aos índios e a serviço de sua causa. Assim, essa festa de Guadalupe pode ser um sinal do que atualmente na América do Sul se chama “amonização da Igreja”.
O evangelho lido nesse dia é o relato da visitação de Maria a Isabel. Na América Latina, Maria que no evangelho sobe a montanha de Judá para ajudar Isabel, agora sobe a colina de Tepeyac para ajudar e servir aos índios. Maria testemunha a vinda do Espírito Santo a Isabel e a criança profética que Isabel tem no seu ventre. Agora ela revela essa presença divina nos povos indígenas como profecia de uma nova humanidade que Deus quer realizar no mundo. Nesse momento social e político de perseguição e caça aos povos indígenas, que esse evangelho de Guadalupe traga aos índios de todos os nossos países a confirmação de que o Espírito está neles e com eles e nos ensine a ser cada dia mais solidários e presentes aos povos indígenas, ao mesmo tempo, abertos ao estilo novo de um Cristianismo indígena ao lado das diversas manifestações espirituais das sabedorias indígenas, das quais queremos ouvir as revelações de Deus que ele reserva aos pequenos e queremos aprender com essas culturas a viver melhor nesse mundo que Deus nos deu.