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Guadalupe hoje

                                                                                Guadalupe, hoje 

                     Na América Latina, hoje, é festa de Nossa Senhora de Guadalupe. De um lado, é uma feliz tentativa de ler a fé cristã do jeito indígena. A mocinha linda e grávida que, em 1530, na colina de Tepeyac, na periferia da Cidade do México, aparece ao índio Juan Diego e lhe diz: Eu sou a mãe de Deus se revelou para dizer a todos que é a mãe dos povos indígenas, que os ama e quer defender a dignidade deles e protegê-los. Para isso propõe ao bispo construir um templo para ela que seria casa dos índios. Depois de muitos esforços do índio Juan Diego para ser ouvido pelo bispo, ele pede um sinal e a Virgem manda ao índio que tire dos ombros o manto de fibra de cacto e o encha de flores, em uma época de inverno que não se encontrava uma flor nos campos. Diego leva ao bispo o manto com flores, mas a surpresa é que quando derrama as flores, descobre desenhada no manto a imagem da Virgem que ele havia visto. Uma imagem feita com uma tinta ainda hoje não conhecida pela ciência e a análise fotográfica do olho ampliado mostra a imagem do índio com o manto aberto pronto a colher as flores.

Independente da lenda, esse relato possibilitou um Cristianismo indígena e principalmente um relato teológico e espiritual que diz: Deus está do lado do índio e do oprimido. A aparição de Maria a Juan Diego tem muitos aspectos semelhantes à manifestação de Deus a Moisés na sarça ardente chamando o povo ao Êxodo da libertação. Infelizmente, a hierarquia oficial se apoderou do templo que construiu, controla o que gosta e o que não gosta, cerceou profundamente no templo o lugar do clero e do poder e o lugar do povo e reduziu a mensagem a um intento de trazer os índios à Igreja Católica. Nos nossos dias, o Sínodo da Amazônia deixou claro que a missão não consiste em trazer os índios à Igreja e sim levar a Igreja aos índios e a serviço de sua causa. Assim, essa festa de Guadalupe pode ser um sinal do que atualmente na América do Sul se chama “amonização da Igreja”. 

O evangelho lido nesse dia é o relato da visitação de Maria a Isabel. Na América Latina, Maria que no evangelho sobe a montanha de Judá para ajudar Isabel, agora sobe a colina de Tepeyac para ajudar e servir aos índios. Maria testemunha a vinda do Espírito Santo a Isabel e a criança profética que Isabel tem no seu ventre. Agora ela revela essa presença divina nos povos indígenas como profecia de uma nova humanidade que Deus quer realizar no mundo. Nesse momento social e político de perseguição e caça aos povos indígenas, que esse evangelho de Guadalupe traga aos índios de todos os nossos países a confirmação de que o Espírito está neles e com eles e nos ensine a ser cada dia mais solidários e presentes aos povos indígenas, ao mesmo tempo, abertos ao estilo novo de um Cristianismo indígena ao lado das diversas manifestações espirituais das sabedorias indígenas, das quais queremos ouvir as revelações de Deus que ele reserva aos pequenos e queremos aprender com essas culturas a viver melhor nesse mundo que Deus nos deu.     

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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