Helder, o Dom da
profecia
No Brasil, queremos retomar um clima de diálogo que nos permita conviver com as diferenças e, ao mesmo tempo, não permitir que os direitos dos trabalhadores e a cidadania dos mais pobres sejam desrespeitados e destruídos. A realidade difícil que vivemos nos recorda Dom Helder Camara, pastor da Igreja e profeta da justiça que, nessa terça-feira, 07 de fevereiro, comemoraria o seu aniversário de nascimento. No Recife, na noite dessa terça-feira, uma vigília das pastorais sociais lembrará essa data importante.
Atualmente, Dom Helder Camara é nome de um Fórum social e
político constituído por representantes de movimentos sociais. Por todo o
Brasil, é também nome de assentamentos
de lavradores sem-terra. O seu nome também está no Centro de reflexões sobre Fé
e Política da CNBB e em muitas outras iniciativas, todas visando justiça e
libertação do povo.
Dom Helder exerceu o seu ministério de arcebispo em Olinda e
Recife nos tempos difíceis de uma cruel ditadura militar e teve dificuldade de
ser compreendido tanto pela sociedade dominante, quanto por muitos irmãos da
própria Igreja. Do seu exemplo e de suas palavras, podemos extrair algumas
lições que nos ajudam a enfrentar os tempos difíceis em que vivemos. Dom Helder
nos ensinava que quanto mais escura é a noite, mais luminosa pode ser a
madrugada que anuncia o novo dia. Isso o fazia nunca desanimar diante das
dificuldades que enfrentava tanto no nível social e político, como nas relações
eclesiais. Ele acreditava que, como anunciava o profeta bíblico: "o
deserto se transformará em jardim". Mesmo aquilo que, no mundo e ao redor
de nós, parece uma situação impossível de ser transformada pode sim ser
superada, através do pensamento crítico e da prática organizada do trabalho de
base.
Dom Hélder dizia: “Nenhuma felicidade pode basear-se na
infelicidade dos outros, porque ofenderia o sentido de justiça que diz respeito
a todos (...) Deus deu ao ser humano o poder e a responsabilidade de não se
conformar com o sofrimento do inocente, mas de combater o mal e a injustiça.
Esta é a tarefa de todos nós”[1].
O mundo não mudará pela ação isolada de líderes
esclarecidos e sim pelo empenho comunitário de grupos de resistência e de
profecia que se consagrem a transformar o mundo a partir de uma profunda
convicção de fé no ser humano e na vida. Dom Hélder chamava esses grupos de minorias
abraâmicas, por serem fecundos fermentos de uma humanidade nova. Mesmo se,
na luta, somos como Davi, jovem e frágil, em combate contra Golias, o poderoso
gigante, a fé nos faz acreditar que temos do nosso lado o Espírito Divino. Ele
nos impulsiona de de luta em luta, sempre no testemunho de um projeto divino
que nasce dos pequenos, desses grupos de base, aparentemente impotentes que Dom
Helder chamava de "abraâmicos" porque tornam fecundo o impossível
chão de nossas esperanças.
É preciso nos sentir
convocados/as de novo para esse mutirão de esperança e solidariedade tão
urgente no mundo. Em 1994, Dom Hélder mandava esta mensagem ao movimento
italiano Mani Tesi (Mãos Estendidas): “…não estamos sós. Por isso, não
aceito nunca a resignação nem o desespero. Um dia, a fome será vencida e haverá
paz para todos. A última palavra neste
mundo não pode ser a morte mas a vida! Nunca mais pode ser o ódio, mas o amor!
Precisamos fazer com que não haja mais desespero e sim esperança. Nunca mais
vençam as mãos enrijecidas contra o outro e sim o que o movimento de vocês
valoriza: Mãos estendidas! Unidas na solidariedade e no amor para com todos”.