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Mais um amigo se vai

Mais um amigo se vai. 

Depois de duas semanas internado por ter contraído a Covid 19, o nosso irmão Assuero Gomes faz a sua partida definitiva. Ele era médico pediatra e desde jovem inserido na Igreja Católica como um homem de fé. Participou como um dos fundadores do grupo Igreja Nova que procurava manter vivos os ideais de Dom Helder Camara depois que este renunciou ao cargo de arcebispo de Olinda e Recife e foi substituído por um bispo de perfil extremamente conservador e que se empenhou em destruir muito do que o seu antecessor tinha realizado, principalmente no que dizia respeito às pastorais sociais e à relação entre a fé e o compromisso social dos cristãos.

No tempo em que celebrei na Igreja das Fronteiras, cada domingo contava com Assuero como verdadeiro diácono. Inclusive quando por acaso estava viajando e uma vez ou outra ocorreu de não ter um padre que pudesse presidir a missa das onze horas no domingo, Assuero coordenava muito bem a liturgia da Palavra, fazia a homilia litúrgica com esmero e competência e dava a comunhão. 

É mais uma partida de irmão próximo a nós que nos entristece e nos assusta. É mais uma vítima, não apenas da Covid 19 que tem sido cruel, mas principalmente do descuido do governo federal e da sociedade conivente com o fazer de contas que a vida continua igual. Que a sua partida nos alerte para deter a insensatez. 

À viúva e aos filhos escrevi uma mensagem assegurando:  

“Nós que somos chamados à VIDA, temos imensa dificuldade de lidar com a partida de uma pessoa que nos é querida. A dor é como um buraco na alma. Uma mistura de saudade, perplexidade e mesmo de certa revolta pela impotência diante de uma morte que arranca da vida alguém que amamos e não pudemos impedir isso. 

Não adiantam racionalizações filosóficas e pouco ajudam consolações de tipo espiritualista ou fatalista que nos levariam a mascarar a dura realidade dessa partida. O que podemos é agradecer o tempo que passamos com ele,  as alegrias vividas em comum e recolher no coração aquilo que ele nos deixa como herança e legado a prosseguir no caminho.

De todo modo, a fé, alimentada como busca de comunhão, de alguma maneira, nos aponta uma dimensão misteriosa da vida que a morte não pode destruir. O próprio Jesus chorou a morte do amigo Lázaro. E quando chegou a sua hora, diante da morte violenta na cruz teve medo e chegou a pedir a Deus que não o abandonasse. Ele lutou contra a morte dos outros e teve de enfrentar a própria morte na confiança e em uma entrega de si mesmo a um Amor que vai além da morte. Ele nos ensinou que Deus quer a vida e não a morte. Ele chora conosco a partida de  nossos entes queridos.   

Deus não quer a sociedade do desvínculo e a inconsciência social e os descuidos que pioram muito as consequências já tão trágicas da COVID. 

No meio da dor dessa partida e na dor da saudade, o Amor Divino em nós nos faz fortalecer os laços de união de uma família ampliada e nos apoiar uns aos outros nestes dias tão difíceis nos quais nem podemos ter a consolação de ir ao velório e acompanhar o sepultamento como gostaríamos.

Hoje, retomamos a oração de Jesus na véspera da sua partida: “Pai, quero que estejam comigo e em mim aqueles/aquelas que me deste para que vejam a tua presença e eu esteja nelas e elas em mim” (Jo 17, 24).  

Estou unido a você, a seus filhos e a toda a família na dor dessa partida e na consolação da fé”. 

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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