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Meditação bíblica, domingo, 03 de julho 2016

No Brasil, a Igreja Católica celebra hoje (transferida do dia 29 de junho) a festa de São Pedro e São Paulo. O evangelho retoma a cena na qual Jesus pergunta aos discípulos o que as pessoas diziam sobre ele e o que os próprios discípulos pensavam dele. (Mt 16, 13- 19). É Pedro que responde: Tu és o filho de Deus. E Jesus diz então o Tu és Pedro....

Embora outros dois evangelhos (Marcos e Lucas) contenham essa cena de avaliação (revisão de vida), só Mateus conta as palavras de Jesus a Pedro. Conforme a maioria dos exegetas, é um texto acrescentado já na época em que as Igrejas precisavam clarear o ministério de coordenação. Eis o comentário que fiz no livro Conversa com Mateus que sairá pela Ed. Santuário ainda nesse ano: 

É no território estrangeiro (do outro lado do Mar da Galiléia) que Jesus ainda clandestino, numa situação de crise pessoal (poderíamos quase dizer: crise de vocação) põe em avaliação a sua missão.   Faz com os discípulos uma espécie de revisão a respeito do que o povo pensa da sua pessoa e da sua missão. A resposta dos discípulos mostra que o povo não compreende a sua proposta. Ele pergunta: “E vocês mesmos o que dizem a respeito do Filho do Homem? Esta maneira de Jesus falar dele mesmo é misteriosa e nem se tem certeza de que ele tenha mesmo utilizado esse título, ou que o tenha usado no sentido de se reconhecer como Messias. 

No contexto do Evangelho, Jesus parece que sente que os discípulos e o povo compreendem a figura e a missão do Messias de um modo que não era o que ele, na obediência ao Pai, queria viver. Tanto isso é verdade que imediatamente, começa a dizer aos discípulos o que, de acordo com o que ele percebe, certamente iria acontecer com Ele em Jerusalém: a perseguição que ele sofreria por parte das autoridades, sua morte e ressurreição.

Só o evangelho de Mateus traz a palavra de Jesus a Pedro: “Tu és Pedro”. Mateus ressalta mais do que outras tradições evangélicas a importância de Pedro no meio dos outros. No capítulo 14, contando a história da barca ameaçada pela tempestade no lago, já havia contado uma cena na qual Pedro reconhece Jesus como Filho de Deus. Agora, novamente, Pedro toma a frente e dá a resposta correta. Só Mateus escreve que Jesus respondeu à profissão de fé de Pedro, lhe fazendo uma espécie de promessa: “Tu és Simão (em hebraico: “Aquele que escuta” ou que obedece), filho de Jonas (da pomba Israel?). De agora em diante, te chamarás Cefas que quer dizer pedra.

Conforme alguns exegetas, na época de Jesus, o povo tinha o costume de escavar as rochas para daí tirar pedras para construir casas. Era um tipo de pedra mais mole que, quem sabe, poderia nos recordar nossa pedra-sabão, usada por vários artistas para esculturas em pedra. Era um tipo especial de pedra, mas possível de ser quebrada e partida para dar lugar a abrigos. Os buracos formados nas rochas recebiam na língua aramaica o nome de kepha. As pessoas pobres e sem casa se abrigavam nestas cavernas e as usavam como sendo suas casas. Assim sendo, o nome Kepha pode ser traduzido por pedra ou por gruta escavada na rocha, isto é, gruta que servia de abrigo para os pobres sem-teto. Se fosse no segundo sentido a palavra atribuída a Jesus, a tradução mais literal seria: “Tu és Pedro e sobre ti como gruta que serve de abrigo aos mais empobrecidos quero construir a minha comunidade (Igreja)”.

Então, a função da Igreja seria ser um refúgio que acolhe as pessoas sem teto e a missão dos seus ministros é garantir essa abertura aos mais desprotegidos.

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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