Nesse domingo, as comunidades católicas, anglicanas e algumas evangélicas leem um evangelho difícil da gente interpretar e compreender hoje: Lucas 14, 25- 33. Como jovens podem compreender um chamado para cada um/a assumir a sua cruz? Como entender que Jesus exija de seus discípulos que o amem mais do que amam a seu pai, a sua mãe e às pessoas mais queridas?
Nesse domingo, certamente, haverá pastores que pregarão sobre a radicalidade do seguimento de Jesus. Outros falarão sobre a prudência e ponderação necessárias à vida. Quem estiver para construir, antes deve fazer todos os cálculos para garantir que terá com que finalizar a construção... Ou a parábola do rei que vai para uma guerra. Antes de ir deve avaliar se tem força suficiente para vencer... Mas, como conciliar essa prudência calculadora (ou até calculista) com a ousadia profética de Jesus que sempre diz que o evangelho tem pressa?
Pessoalmente, acho que corremos o risco de dar às pessoas uma imagem falsa de Jesus - super exigente e que gosta de ver as pessoas sofrendo... Evidentemente, não se trata disso...
Não se trata de que Jesus é muito exigente nem que pede coisas difíceis demais. Para compreender as palavras desse evangelho, é necessário situá-las no contexto da ida de Jesus para Jerusalém onde vai enfrentar os adversários e sofrer a cruz. Nesse contexto terrível, ele procura ser honesto e dizer claramente a quem quiser segui-lo: vocês precisam saber o que os espera. Não se enganem... E aí sim a realidade é muito exigente e a situação é a mais radical possível. Em um caminho como esse, é preciso passar por uma conversão profunda, tanto dos nossos afetos (não para não amar, ou amar menos) mas para amar como Jesus ama... É preciso sim verificar se estamos prontos para ir até o fim. Seria uma tragédia ser discípulos pela metade e o discipulado de Jesus pede, exige clareza de visão da realidade, o que não é fácil..
Jesus não quis a cruz para si e não quer a cruz para ninguém. A cruz é o resultado de insistirmos em uma missão que é o testemunho do projeto divino no mundo e o sistema dominante não suporta isso... Hoje, há povos inteiros crucificados, como dizia Ellacuría e diz ainda hoje Jon Sobrino. Podemos dizer que, em uma situação como vivemos hoje, é o Brasil inteiro que está crucificado. Foi crucificado por um golpe de Estado, mas que é mera expressão ou conseqüência de um alinhamento do governo (ilegítimo) a um sistema capitalista internacional que é o ídolo que hoje mata sem piedade a populações inteiras....
Hoje, carregar a cruz não significa aceitar o sofrimento e sim assumir a solidariedade para fazer o Brasil descer da cruz que lhe foi imposta e que nada tem a ver com Deus. Ao contrário, é oposta ao projeto divino.