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​Meditação bíblica, domingo, 07 de abril 2013

Para as antigas Igrejas cristãs esse domingo é o do carinho divino para as pessoas hesitantes na fé e até mesmo incrédulas e descrentes.  O evangelho lido nas celebrações hoje, (João 20, 19- 31) diz que na tarde do primeiro dia da semana (portanto o dia seguinte ao sábado da Páscoa judaica), a comunidade dos discípulos de Jesus estava reunida em um lugar com as portas fechadas e com medo. É a própria imagem do grupo hesitante, sem coragem e sem compromisso, preso ao próprio medo e à própria decepção. 

Às vezes, tenho a impressão de que a nossa Igreja é acometida de vez em quando dessa mesma tentação: fechar-se em si mesma, em seus dogmas, em suas doutrinas e leis e se tornar um grupo fechado e sem perspectivas.  

O evangelho conta que o próprio Jesus veio no meio do grupo, que mesmo desanimado e fechado, se manteve unido (isso é fundamental. Seja como for, não deixaram de se reunir. Hoje às vezes, por causa de dúvidas ou de não concordar com isso ou aquilo algumas pessoas acabam não vindo mais às celebrações, não se reunindo mais. E aí nem isso - esse encontro com Jesus pode acontecer. Com os primeiros discípulos isso aconteceu. E Jesus veio a eles, sem se importar com as portas fechadas, com o medo e as dúvidas. É um gesto de carinho e de aceitação da fragilidade deles. A paz (isso é, shalom, o que a gente hoje diria saúde, paz e força) para vocês. E no lugar de os repreender, sopra sobre eles lhes dando o sopro de vida nova que ele tem, dando a eles o seu hálito divino, o seu Espírito. E diz: Recebam o sopro divino ou o Espírito divino... E os envia em nome do Pai de amor. E Jesus transformam a tristeza deles em alegria, o medo em coragem da missão. É o cumprimento das promessas do discurso antes dele morrer: vocês estarão tristes e eu hei de ver vocês novamente e a tristeza de vocês se transformará em alegria e uma alegria tão grande que ninguém poderá tirar de vocês essa alegria. A Igreja gosta de repetir esse verso do evangelho de hoje durante os 50 dias dessa celebração pascal: "os discípulos ficaram cheios de uma alegria imensa, ao verem o Senhor, aleluia, aleluia"...

O evangelho continua nos apresentando Tomé ou Dídimo. Já tinha falado dele no capítulo 7 quando Jesus decidiu  vir a Jerusalém para a festa da Páscoa e Tomé não gostou: Nem no capítulo 11 quando Jesus quis visitar o amigo Lázaro que tinha morrido. A gente vai morrer também... murmurava Tomé. Mas, acabou indo... 

O evangelho diz que na tarde do domingo quando os outros se reuniram, Tomé não estava com eles no grupo. Tinha desistido. Tinha se decepcionado com Jesus por não ter enfrentado os inimigos e ter se deixado prender e morrer. É possível. Ele soube pelos outros de que tinham visto Jesus vivo. Mas, ele tinha dúvidas e se negou a crer. Só se eu tocar nas suas chagas e no buraco que a lança fez em seu peito. Era pedir demais isso, mas significava que ele não se conformava com essa fragilidade de Jesus. Queria colocar o dedo na fraqueza. 

Agora, oito dias depois, se reuniram de novo e ele estava com eles. E de novo um gesto próprio de Jesus com Tomás, um gesto de respeito à descrença dele, de carinho com ele e de aceitação de suas dúvidas: Toque aqui, faça a experiência que quiser.... 

Tomé com sua descrença e suas dúvidas ajuda mais a nossa fé do que o grupo inteiro que acreditou porque nos dá a possibilidade de verificar hoje nossas dúvidas, nossas incertezas e suspeitas. E temos direito a elas. E ter fé não é bem a gente não ter dúvida. É mais a gente não desistir da busca... E por isso Jesus proclama a última bem-aventurança, a última bênção sua no evangelho: Feliz quem crê sem precisar de ver. Abençoado quem crê sem cair na indiferença, na frieza... 

Jesus diz isso, mas topa que Tomé e nós tentemos experimentar, ver, provar, etc.... O importante é não cessar a busca e essa busca é a busca pascal.... Peço a Deus a graça de manter em mim essa chama acesa da busca e do interesse e que nós todos possamos viver essa alegria pascal de reconhecer Jesus presente no meio de nossas lutas e nossas vidas. 

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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