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​Meditação bíblica, domingo 08 de setembro 2013

- Na continuidade da caminhada (Lc 14, 25 – 35).

Parece que o evangelho juntou aqui sentenças soltas de Jesus. Provavelmente, ele disse essas palavras em outro contexto e Lucas reuniu nessa série de sentenças sobre as exigências do discipulado. Alguém poderia recordar que mais tarde, o texto conta que ele comeu com os discípulos (e provavelmente também com as discípulas que o tinham seguido desde a Galiléia). Assim como depois da última ceia, ele sai para o jardim no qual será preso, aqui também, da ceia ele sai para a sua caminhada em direção a Jerusalém. É bom notar essa relação entre a ceia de Jesus e a cruz. Ele que, nessa caminhada, tinha se dedicado até aqui a formar o seu grupo íntimo, aqui reencontra uma multidão.

Esse evangelho fala muito em multidões e povo. Bem mais do que os outros evangelistas. Jesus não se isola do povo para formar o seu grupo. Isso significa que a Igreja não pode se separar do povão e se distanciar da humanidade. Por isso, mesmo se não parece muito histórico, nós contamos que foi se dirigindo à multidão que Jesus expressa as exigências do seguimento. Notem que essas sentenças terminam pela comparação do sal e o que Jesus diz é que o sal tem de poder ser misturado à terra ou à comida. Se fica isolado, perde o sabor e a finalidade para a qual existe.

 Há versões deste texto que traduzem: “Quem não odiar ou aborrecer pai, mãe, filhos, irmãos, etc, não pode ser meu discípulo”. A tradução mais correta é mesmo relativizar, amar menos... Não é não amar e menos ainda odiar. Trata-se de nada antepor ao amor do reinado divino e de Jesus como pessoa. Essa tradução (por em segundo lugar) é da tradução brasileira da Bíblia do Peregrino e vem do grande exegeta espanhol Alonso  Shokel (p. 2506).

- É o sentido dado pelos revolucionários à renúncia aos laços familiares e às ligações afetivas que aprisionam e impedem a pessoa de se consagrar totalmente à causa, assim como a arriscar-se. Quando a gente sabe que, além da gente mesmo, compromete outras pessoas, fica muito mais difícil dar o passo decisivo. Não podemos esquecer que Jesus está caminhando para Jerusalém ao encontro de sua condenação à morte. Neste sentido tomar a cruz é assumir o risco da missão. Eu conheci bem de perto o padre Josimo Tavares, no Tocantins. Quando ele, ameaçado de morte, foi aconselhado a deixar aquela região perigosa, respondeu: “E os outros ameaçados, pais de família e pessoas pobres que não têm para onde ir?” Por que ele escaparia e os outros não? Então, o importante é que não se faça dessas palavras de Jesus uma leitura ascética, desligada do concreto. Jesus não chama ao risco pelo risco e nem à cruz porque ama o sofrimento. É que neste contexto real do mundo em que vivemos, seguir Jesus é arriscar-se. No diário de Monsenhor Oscar Romero, poucos dias antes do seu martírio, lemos que ele fez um retiro e estava com muito medo de que as ameaças se cumprissem e ele fosse morto. E se perguntava se não deveria deixar o seu trabalho. Mas, como deixar de apoiar os lavradores e índios perseguidos? Como se proteger deixando-os entregues à própria sorte? Ele ficou e foi assassinado.

Jesus faz duas comparações. A da torre é tirada da vida agrícola. O profeta Isaías dizia: “Meu amigo plantou uma vinha em fértil colina. Cavou-a, tirou-lhe as pedras e construiu no meio uma torre de guarda” (Is 5, 2). Era costume construir essas torres para vigiar o campo e que serviam também para proteger a pessoa contra o mau tempo. Já a outra comparação é militar e devia também ser comum no tempo de Jesus. De qualquer modo, ambas dizem: o discípulo ou discípula não pode se comprometer sem antes se preparar. Não pode ser imprevidente. 

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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