O evangelho lido hoje nas comunidades é o envio dos discípulos em missão (Marcos 6, 7 - 13). De fato, é o segundo relato que diz que Jesus mandou os doze em missão. Acho importante o fato de que primeiramente o evangelho fala da missão de Jesus como profeta - por exemplo, dessa vez, foi o evangelho do domingo passado que afirmava que ele não foi reconhecido nem respeitado em sua própria terra (Marcos 6, 1 - 6) e logo depois ele manda os discípulos, como se devessem percorrer o mesmo itinerário, viver a mesma sorte, realizar a mesma coisa que ele, Jesus, faz e fez. Manda dois a dois, testemunhar que o projeto divino está chegando ao mundo e ensinar as pessoas a se prepararem e acolherem essa realidade nova.
Manda que eles levem o necessário para a missão itinerante- túnica, cajado na mão e sandálias nos pés. Mas, não levem dinheiro nem comida. Isso devem receber nos lugares por onde andarem e das pessoas que os acolherem. Até hoje, muitos peregrinos de Juazeiro do padre Cícero fazem isso e os companheiros dos peregrinos que a cada ano em julho fazem peregrinações - meu amigo, Artur, o peregrino - fazem isso.
A missão se realiza na pobreza e no testemunho de que é possível viver sem consumismo e sem dependência da sociedade dominante. Conheci vários irmãos que viviam assim; sem nada e dependendo sempre dos outros. Eu mesmo me vi assim em alguns momentos da vida. E peço perdão a Deus por nem sempre dar esse testemunho. Mas, o importante é testemunhar que apesar de todas as contradições, o projeto divino vai se realizando no mundo.
Infelizmente, muitas vezes, no decorrer dos tempos e até hoje, as Igrejas cristãs transformaram essa missão em uma missão de doutrinação religiosa e até de conquista. Aliás, ante-ontem, na Bolívia, falando aos movimentos sociais, o papa Francisco falou da colonização europeia na América como conquista. Penso que foi a primeira vez que um papa usou essa linguagem. Ainda em Aparecida (2007), Bento XVI enalteceu e elogiou o fato de que os europeus trouxeram o Cristianismo a esse continente. Esse papa atual disse: foi uma conquista violenta e lembrou que João Paulo II pediu perdão aos índios e a todas as vítimas da conquista.
A conferência episcopal de Aparecida (2007) propôs a nossas Igrejas uma nova missão, uma missão continental. Mas, ao ler o texto, fico sempre com a impressão de uma ambiguidade. Parece que não ficou claro que a missão tem em vista o reino de Deus e não em si a Igreja. E a própria forma da missão não pode ser um levar os valores nossos aos outros e sim como Jesus fez um inserir-se e encarnar-se na realidade que se encontra.
No encontro com os movimentos sociais, em Santa Cruz, o papa deu graças a Deus pelo fato de que muitos padres e agentes de pastoral estão inseridos nos movimentos sociais. Seria bom que os padres jovens ouvissem isso e que em nossas dioceses - a gente se perguntasse "quantos???".
De todo modo, o importante é nós mesmos acolhermos essa palavra e renovar nossa disposição de seguir Jesus e viver a sua missão nesse mundo.