O evangelho desse 3o domingo do Advento é o texto que conta a crise de fé do profeta João Batista na prisão (Cf. Mt 11, 2- 11). Conforme o evangelho de Mateus conta, quem primeiro teve de se posicionar a respeito de Jesus foi João Batista. Herodes Antipas o tinha aprisionado na fortaleza de Maqueronte que dominava a margem oriental do Mar Morto (Cf. Mt 4, 12). Da prisão, João ouve falar do que Jesus está fazendo e se decepciona. Conforme os profetas anunciavam a vinda do Messias, João tinha prometido que o Cristo viria trazendo ao mundo o julgamento divino. Conforme sua forma de ver, o messias deveria vir com força, como um machado que já está na raiz das árvores. Ele separaria o trigo das palhas para queimá-las em um fogo inextinguível (Cf. Mt 3, 10). Agora, na prisão, os discípulos contam a João como Jesus atua. E João se decepciona. Entra em crise de fé e de respeitabilidade. Ele não aceita ser como esses profetas falsos que anunciam e depois o que eles dizem não se cumpre. Manda os discípulos interrogarem a Jesus: “É você mesmo Aquele que vem, ou temos ainda de esperar por outro?”. A expressão “Aquele que vem” se referia na época ao Messias que deveria vir para restabelecer o reinado de Israel e libertá-lo dos seus inimigos (Cf. Salmo 118, 26; Dn 7, 13).
Jesus não responde diretamente à pergunta de João. Mostra suas ações e manda que João as interprete. Para anunciar a vinda do Messias, João se baseara em algumas profecias (como Ml 3, 2- 3). Jesus se baseia em outras (como Is 35, Is 61). Estas revelam a missão do Messias como manifestação do amor misericordioso de Deus, especialmente com os pobres e abandonados pela sociedade. O importante é que João não caia na armadilha do escândalo, do “romper a sua relação de adesão” (sua fé) pelo fato de não compreender ou por ter pensado uma coisa e acontecido outra. Deus sempre surpreende a gente. João é como o profeta Jonas. Este tinha predito que Deus iria destruir a cidade de Nínive. Como Deus resolveu perdoar a cidade, o profeta entrou em crise (ficou escandalizado!). E por isso Deus o censura.
Provavelmente Mateus contou essa crise de vocação de João Batista e o posicionamento de Jesus sobre João para tratar da relação conflitiva ou tensa que havia entre o grupo dos seguidores de João e os cristãos na época de vocês. Há continuidade entre João e Jesus. Os dois têm a mesma mensagem (Mt 3, 2 e 4, 17). As diferenças que João tinha percebido e que fez com que ele se interrogasse sobre Jesus, de fato, não são assim tão grandes.
O importante desse evangelho é aceitar que Deus sempre nos surpreende e somos chamados para descobri-lo sempre de forma nova e evolutiva (que evolui sempre).
[1] - SCHALOM BEN-CHORIN, Fratello Gesù, Um punto di vista ebraico su il Nazareno, Brescia, Ed. Morcelliana, 1985, p. 49- 50.