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Meditação bíblica, domingo, 16 de março 2014

Hoje, 2° domingo da Quaresma, a leitura do evangelho lido nas comunidades é sempre o relato da transfiguração de Jesus (Mt 17, 1- 9). 

Os três evangelhos sinóticos colocam o relato do que se costumou chamar a “transfiguração” de Jesus quase imediatamente após a cena de Cesareia. Assim como ligaram o batismo à tentação no deserto, ligaram à confissão de Pedro com essa narração da manifestação da glória de Deus na pessoa humana de Jesus.

O fato de salientarem que isso se deu “seis dias depois” já mostra que um acontecimento está ligado ao outro. Alguns estudiosos ligam o anúncio da paixão e a repreensão feita por Jesus a Pedro como se ela tivesse acontecido no Dia do Perdão (Yom Kippur), festa judaica prevista na lei (Lv 23, 27- 33). Nesse caso, compreender-se-ia o “seis dias depois” como alusão à Festa das Tendas (Sukkot). Assim, se compreenderia melhor à alusão às tendas (Vamos fazer três tendas!) e ao clima de esperança que a narrativa contém.

Independentemente se isso é real ou não, essa relação é bonita e nos ajuda a compreender o sentido desse episódio. A transfiguração (o texto grego chama de “metamorfose”) só tem seu sentido completo após à ressurreição, ou à luz desta fé. É uma experiência mística de três discípulos que Jesus escolhe para compartilhar da sua intimidade com o Pai. A transfiguração é uma visão que os discípulos têm. Eles é que são chamados a transformar (metamorfosear) a sua visão sobre Jesus.

Jesus aparece na montanha como refazendo a relação com Moisés e Elias (a lei e os profetas) e refazendo junto com os discípulos a experiência do Êxodo no qual o Senhor Deus descia sobre a tenda e Moisés ficava com o rosto tão luminoso que o povo não podia olhar (Cf. Ex 34, 29).

O momento em que isso (segundo os evangelhos) ocorre com Jesus é quando esse acaba de anunciar que vai a Jerusalém e vai sofrer a cruz. Moisés tem a experiência de ser inundado pela luz de Deus depois de ter sofrido a decepção de ver o povo adorando o bezerro de ouro e depois de ter quebrado as tábuas da lei. Elias também recebe a revelação divina no Horeb quando está fugindo, com medo de ser morto pelo rei Acab. Então, essa experiência da transfiguração ocorre tanto para Moisés, como para Elias, como para Jesus como uma confirmação de que Deus está presente e atuante em nossos momentos mais pesados e difíceis da vida. 

O modo como a Bíblia gosta de contar as manifestações do Senhor (aparece uma luz forte e uma nuvem densa) acontecem agora sobre Jesus. E, como no batismo, os discípulos escutam a palavra de Deus: “Este é o meu Filho amado. Escutem-no!”.  

Então, a cena começa centrada em Jesus, mas acaba revelando um jeito de ser de Deus. Ele é Pai e aproxima-se de nós como amigo.

Mesmo no meio das dificuldades mais profundas e nos sofrimentos mais intensos da vida, vamos subir à montanha, vamos ao mais alto de nós mesmos que ali Deus vem nos iluminar e nos confirmar: Tu és meu filho mais querido. 

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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