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Meditação bíblica, domingo, 17 de maio 2014

Nesses domingos (esse e o próximo), escutamos trechos do discurso que o quarto evangelho põe nos lábios de Jesus durante a última ceia. Hoje escutamos o começo do capítulo 14 (Jo 14, 1- 7).  

É a segunda parte do discurso construído em três partes. Nessa, Jesus diz: na casa do meu Pai há muitas moradas. E se apresenta como caminho, verdade e vida. Há pessoas que escutam essa parábola das moradas como se Jesus falasse do céu e dissesse que o céu é como um hotel de luxo no qual sempre há apartamentos à disposição. Mas, o contexto do evangelho não é sobre o céu. É verdade que o evangelho joga sobre o duplo sentido: ele vai nos preparar um lugar na casa de Deus e aí sim está falando do reino definitivo, mas ao mesmo tempo o contexto a partir do qual Jesus fala mostra que a casa é a comunidade dos discípulos e discípulas de Jesus. A casa é a Igreja doméstica. E nela Jesus diz que há muitas moradas. Isso quer dizer que há diversidade, há várias possibilidades ou modos de ser discípulo/a. Não há um único. Eu que vivo uma forma de vida alternativa de monge e de padre fico feliz com isso. Além disso, compreendo que a casa da gente é nossa vida, nossa pessoa. Nossas moradas são as pessoas que nos acolhem como amigas e nós somos moradas para elas. O próprio Jesus nunca teve uma casa própria. Hospedava-se com os amigos e amigas e vivia assim com as pessoas. Nesse sentido, quando o discípulo compreende que ele vai preparar um lugar e vem nos tomar, ele pergunta: Mas como podemos ir se não sabemos o caminho. E Jesus responde: eu sou o caminho, a verdade e a vida.

Muitas vezes, vi essa palavra ser compreendida no sentido absolutista, exclusivista, como se Jesus dissesse: Só o cristianismo é certo. Só o cristianismo salva e leva a pessoa a Deus. Primeiramente, ele falou de si e não do Cristianismo ou da Igreja. Em segundo lugar, não falou em um contexto de negar o valor de outros caminhos religiosos. É como se dissesse que ele assume todos os caminhos na sua pessoa e na sua missão. Ele assume todo caminho, assume toda verdade e se revela como vida de nossa vida.

Ele é para nós o rosto do Pai e se revela no rosto de tantas pessoas que nós amamos e de tantas pessoas que nos ajudam a caminhar para o reino do Pai.

Nesse domingo, o meu irmão e amigo Marco Campedelli completa 25 anos de padre em Verona. Nós nos conhecemos em 1988. Eu passava lá para visitar uma grande amiga e ele era diácono e me procurou. Tinha 24 anos. Estava em dúvida se podia ser padre ou não. Desde adolescente era ator de teatro de bonecos, amava essa profissão e se perguntava se conseguiria ser padre e artista ao mesmo tempo. E eu lhe respondi que dependia dele e que se sentia chamado, deveria lutar por isso. E me comprometi a acompanhá-lo. E desde esse momento, de fato, ficamos amigos. Nunca passamos um tempo longo sem nos comunicar e o tenho acompanhado por todo esse caminho de vida. É um padre que tem ajudado muito a Igreja a se renovar e a viver a serviço do povo. Deus o abençoe e o conduza sempre.  

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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