O 4o domingo da Páscoa é chamado de "domingo do bom pastor", porque os evangelhos escolhidos para esse domingo são tirados do capítulo 10 de João no qual Jesus diz: eu sou o verdadeiro pastor.
Hoje, pastor e ovelhas são imagens que não fazem parte do nosso cotidiano e é difícil a gente entrar no imaginário do mundo rural ao qual Jesus se refere, principalmente em um mundo da técnica e do lucro que aprisiona os animais e os engorda para matar. Jesus conviveu com pastores que conviviam com suas ovelhas e passavam o dia com elas no campo. Por causa da história de Davi, pastor de ovelhas que se transforma em rei, na tradição de Israel, o título de pastor não era como entre nós um título religioso. Era político e esse capítulo de João é talvez o mais subversivo e revolucionário de todos os evangelhos. Posso imaginar a cara das pessoas do sistema dominante da época ouvindo Jesus dizer: O verdadeiro pastor (governante) sou eu e todos os outros são ladrões e salteadores. É claro que o discurso do cap. 10 de João pode não ter sido tal qual de Jesus e a gente não sabe o que de fato aconteceu naquela festa da dedicação do templo (em dezembro). Mas, mesmo o fato de atribuir essas palavras a Jesus já era uma coisa incrível. E o final do discurso que é o evangelho dos anos C (o desse ano), de certo modo resume e retoma tudo o que havia sido dito antes. Insiste na relação de intimidade entre pastor e ovelhas (minhas ovelhas me conhecem) e na doação da vida do pastor. Hoje, ao reler esse evangelho, minha meditação é rever até que ponto minha vida e meu ministério (e aí posso sim colocar o de toda Igreja) é em função da vida e do bem viver das pessoas.