Hoje é o domingo após uma semana tumultuada no Brasil. No domingo passado, manifestações contra o governo, lideradas pela direita e pela elite rancorosa do Brasil, embora muita gente foi à rua sem saber muito por que ia. Conversei dois minutos com um motorista de taxi e ele me disse no final: "De fato, nunca tinha pensado no que você está me dizendo". E eu disse simplesmente que o problema maior é do sistema - da ordem política que temos de mudar e não de uma pessoa que seria a Dilma ou outro presidente qualquer. Mostrei que não estou de acordo com Dilma e seu governo em muitos pontos (política agrária, política ecológica, etc), mas justamente nesses pontos, a oposição não toca porque, nisso, faria bem pior do que o governo atual. Na quinta feira, foi surpreendente em todo o Brasil a quantidade de gente que foi à rua contra a tentativa de golpe e para apoiar a democracia, mesmo pessoas e grupos com críticas à presidente.
Nessa semana, o primeiro ministro da Grécia teve de se demitir, diante do cinismo cruel da Alemanha e dos bancos europeus que querem reduzir esse país à escravidão. Há uma crise mundial e uma crise das religiões. Na quarta feira, fui a Brasilia para falar na Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados sobre a diversidade religiosa. E o pastor Eurico me chamou de radical e me disse que eu defendia os terroristas islâmicos.
A celebração do 21° domingo comum do ano B é centrada no evangelho em que, depois de concluir seu discurso em Cafarnaum, Jesus nota que muitos dos seus discípulos voltam atrás e não querem mais segui-lo. E lhe dizem: "Essa palavra (o discurso na sinagoga de Cafarnaum sobre o pão da vida) é muito dura (em grego sklerosis). Quem pode suportar isso? E Jesus lhes diz: Se vocês se escandalizam com isso, como vão enfrentar quando me verem na cruz? Mas, respeita a decisão de cada um e simplesmente pergunta ao círculo mais íntimo, aos doze: "Vocês também querem ir embora?". E Pedro responde em nome de todos: "A quem iremos, Senhor? Só Tu tens palavras de vida eterna". É como se ele dissesse: Querer ir embora, até queremos. Mas, para onde? A quem procurar? . Não temos alternativa. Só tu tens palavras de vida eterna.
Os exegetas chamam esse momento da vida de Jesus de crise galilaica (porque ocorreu na Galileia). Uma crise não só de conflito com a sociedade dominante e a religião do templo e da sinagoga, mas mesmo uma crise interna no seu grupo. A questão que, hoje, esse evangelho nos coloca é até que ponto a própria Igreja, o próprio clero, o Vaticano e nós mesmos optamos por seguir Jesus como ele é e com sua proposta profética ou tentamos diluir sua profecia com água e açúcar tornando a religião mais palatável?
A todo momento, eu mesmo tenho de me colocar essa pergunta fundamental: Eu fico com ele ou fico com a lógica que não é dele e as opções que me acomodam ao mundo?