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Meditação bíblica, domingo 27 de julho 2014

Nesse domingo, as comunidades tomam como evangelho as três últimas das sete parábolas sobre o reinado divino que o evangelho de Mateus reuniu no capítulo 13: a parábola do lavrador que encontra um tesouro no campo do outro e a do negociante que encontra uma pérola preciosa, assim como a história da rede de pesca de onde são tirados peixes de todo tipo e escolhidos. Sobre isso, no meu livro "Conversa com Mateus, escrevi o seguinte:

"Do mesmo modo como nas parábolas anteriores, Jesus mostra que o reinado divino vem de um modo subversivo e contrário às normas do mundo. A história do homem, provavelmente um lavrador pobre, que num campo em que trabalhava para outro (um patrão) encontra um tesouro e o esconde novamente para comprar o terreno também não seria um bom exemplo de moral. A moral comum pediria que ele entregue ao dono do campo o tesouro que encontrou e continue pobre lavrador trabalhando para os outros. Mas, Jesus diz que o reinado divino tem outra lógica. Pensa pelo avesso. Mais uma vez, vemos que as parábolas do reinado divino vão contra as convenções da sociedade da época e mesmo da sociedade atual. Pode ser que Jesus tenha contado um fato da vida que, depois de ocorrido, tornou-se conhecido. Ou propositalmente, ele quer mostrar como o reino se apresenta a partir das realidades ambíguas da vida de cada dia?

A vida é assim cheia de coisas que nem são muito corretas, nem muito erradas. Mas, é a vida. As parábolas do tesouro e da rede voltam à questão fundamental. Jesus anuncia o reinado divino para todos e todos podem acolhê-lo. Mas, há uma exigência fundamental. O reino pede um compromisso de vida. E um compromisso que exige tanta totalidade que, para vivê-lo, a pessoa arrisca tudo... Bonhoeffer interpretava essas parábolas falando do “preço da graça”. Aparentemente é contraditório dizer que a graça de Deus é gratuita, mas “custa caro”. Custa ao homem que, de graça, encontrou o tesouro escondido no campo, mas tem de vender tudo o que possui para poder comprar aquele campo (é caro) e assim receber de graça o tesouro que vale muitíssimo mais do que o campo e do que tudo o que ele vendeu. É a situação do homem que encontra de graça o tesouro no campo, mas como o campo é de outro, ele tem de vender tudo o que tem para comprar o campo, e assim, comprando o campo, poder ter o tesouro - de graça. Ele não paga o tesouro. Esse não tem preço. Está acima de tudo. O homem compra o campo para poder ter o tesouro. Do mesmo modo, o negociante com a pérola preciosa...E nós continuamos com a nossa vidinha rotineira e medíocre ou apostamos tudo para recebermos o tesouro do reinado divino em nossas vidas?" .

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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