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Meditação bíblica, domingo 28 de fevereiro 2016

Nesse 3° domingo da Quaresma (nos anos C, isso é, aqueles nos quais a Igreja propõe a leitura do evangelho de Lucas), o evangelho desse domingo me parece mal escolhido e por motivos que, salvo engano, não seriam os mais adequados para devolver ao tempo quaresmal a sua dimensão pascal. É um texto difícil para a pregação e penso que a maioria dos padres católicos e pastores evangélicos têm dificuldade de explicar que Jesus tenha dito que se as pessoas não se converterem, vai acontecer com elas a mesma coisa que ocorreu com os galileus que Pilatos mandou matar.

Repito aqui o comentário que fiz a esse evangelho no livro "Boa notícia para todo mundo" (Conversa com o evangelho de Lucas) que no próximo ano a editora Santuário vai publicar atualizado e ampliado: 

- Convite à conversão (Lc 13, 1- 9).

Jesus tinha acabado de pedir aos discípulos e discípulas que prestassem atenção aos sinais do tempo e logo é informado a respeito de um massacre cometido por Pilatos. Conforme alguns exegetas, estes galileus podem ter sido ligados aos zelotas contra a ocupação romana e por isso foram “castigados”. É possível que as pessoas que informaram a Jesus sobre isso quisessem saber a posição dele sobre este movimento que acabará se tornando importante na guerra declarada dos romanos contra os judeus mais tarde (pelo ano 67 D. C). Jesus não responde sobre isso. O que ele faz é investir contra a concepção farisaica que acreditava em uma ligação íntima entre as coisas negativas e sofrimentos que ocorrem na vida e o pecado. Todos nós sabemos e os grupos espiritualistas atuais insistem que existe alguma relação entre doença e responsabilidade pessoal, assim como há uma profunda unidade entre a dimensão somática (corporal) e a dimensão espiritual. Entretanto, não é uma relação imediata nem direta. Se fosse assim, cairíamos na concepção de que as pessoas sofrem porque pecaram, ou, no nível social,  são pobres porque são preguiçosos e são oprimidos porque merecem. Isso é terrível, porque a pessoa vítima se torna réu. No tempo de Jesus e mesmo das comunidades do evangelho, os fariseus diziam: “Somos justos, por isso não merecemos uma tragédia como aquela”. Jesus denuncia que, ao contrário, todos somos pecadores e precisamos de conversão. A dificuldade que essas palavras suscitam, hoje, é que o modo como Jesus fala ainda dá a impressão de um Deus que castiga de modo terrível os que não se convertem.  

De fato, Jesus fala do mesmo modo dos profetas do primeiro testamento e a preocupação dele nessa história não é a imagem divina. Ou melhor, ele liberta a imagem de Deus dessa concepção farisaica na qual Deus parecia enquadrado nas nossas ações e dividia as pessoas em puras e impuras, boas e más, santas e pecadoras. Isso, ele mostra que não tem sentido. Mas, usa a mesma linguagem de Jeremias quando diz que Israel vai para o exílio por causa de seus pecados. Os salmos dizem que quem não aproveita o tempo presente para se arrepender, não se livrará do mal que pode acontecer (Sl 7, 13; 50, 22). Ele não disse que o mal acontece porque Deus castiga e sim porque a não conversão leva o povo ou a comunidade a uma situação de fragilidade e erro que acarretam o mal. A linguagem é antiga e deve ser mudada. Basta ver a parábola da figueira estéril. A figueira era comumente símbolo de Israel (Cf. Jr 8, 13, Os 9, 10; Mq 7, 1). É importante ver que o lavrador pede ao dono da lavoura a paciência de mais um tempo e  uma nova oportunidade para a figueira que não produz frutos. Toda essa passagem é marcada pela advertência à conversão.

Temos de tomar cuidado para não parecer que cremos em um Deus cruel que obriga as pessoas a segui-lo e destrói os que não aceitam obedecer à sua lei. É a imagem de Deus criticada e ridicularizada no romance Caim de José Saramago. Ao contrário, a imagem de Deus que Jesus transmite é a de um Deus amor que como dizia Roger Schutz, o prior de Taizé: “Só pode amar!” 

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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