Hoje, a Igreja Católica no Brasil antecipa a memória do martírio de São Pedro e São Paulo. Para o povo o dia 29 de junho é festa de São Pedro. (São Paulo é mais lembrado no dia 25 de janeiro, memória de sua conversão). O evangelho da missa de hoje é a conversa entre Jesus e os discípulos em Cesaréia de Filipe (Mt 16, 13- 19). Acho ruim que os liturgistas tenham cortado o texto do evangelho no meio para ler só a parte positiva na qual Jesus elogia Pedro e cortaram o momento em que Jesus o repreende ("Afasta-te de mim, Satanás").
A maioria dos padres e bispos pregarão sobre o "Tu és Pedro...", frase que ninguém sabe se foi mesmo historicamente dita por Jesus ou se foi um acréscimo da comunidade de Mateus nos anos 80 (muitos exegetas evangélicos, mas também católicos acham isso) e de todo modo, o importante é interpretar corretamente os termos usados no texto. A maioria interpreta ao pé da letra e fala da Igreja como rocha (pedra) e do bispo de Roma, o papa como sucessor de Pedro, a pedra fundamental da rocha ou da construção da Igreja.
Não quero entrar nessas discussões apologéticas sobre se o papa, como bispo de Roma, é mesmo sucessor ou não de Pedro. Imaginar papa no mundo antigo me parece impressionante, principalmente para quem vive acusando evangélicos de leitura fundamentalista dos textos bíblicos. Mas, cada um faz a leitura fundamentalista que quiser. É livre.
Prefiro centrar a meditação desse evangelho em dois pontos: o primeiro é a pergunta central de Jesus aos discípulos: e vocês, quem dizem que eu sou? Ou seja, o que eu (a minha pessoa) represento para vocês? Essa pergunta é dirigida a cada um de nós, hoje e sempre. Principalmente, nos momentos de crise que vivemos na nossa trajetória de vida. Ela foi dita aos discípulos em um momento de crise, crise de Jesus e crise do grupo. E hoje é em um mundo e em uma Igreja em crise que Jesus nos pergunta: E o que vocês dizem de mim? Será que eu estou falando de Jesus de um modo correto? Será que o testemunho que eu estou dando dele é verdadeiro? E aí o problema é que responder: "Tu és o filho de Deus" é fácil e desde o catecismo infantil a gente aprende isso. Mas, Jesus disse a Pedro: Não é uma resposta doutrinal que importa. É como a gente compreende a missão dele no mundo. E aí Jesus censurou Pedro porque compreendeu que Jesus era o enviado de Deus, mas não que cumprisse a sua missão através do serviço humilde e da doação na cruz e no sofrimento. E é essa chave para compreender o Tu és Pedro. Se Jesus histórico disse mesmo essas palavras a Pedro ou não, pouco importa. O que ele está dizendo é que Pedro recebeu a revelação não da carne e do sangue (de elementos humanos) e sim de Deus e que é o Espírito que dá a chave de interpretação correta da escritura (a chave não é questão de poder e sim de interpretar corretamente a palavra de Deus). E o pastor Pedro deve ser pedra, no sentido de Cefas, a pedra da região que era como pedra sabão, pedra mole que o pessoal pobre cavava para se abrigar, para morar. Então Pedro e todo discípulo de Jesus tem de ser pedra no sentido de ponto de abrigo e de acolhida para todos os pobres e pessoas necessitadas de acolhimento. E essa é a nossa missão...
É só a partir dessa realidade que Jesus será para mim e para nós, o filho de Deus, isso é, a pessoa que me liga ao Pai.