Neste 4° domingo comum do ano, a Igreja nos convida a escutar e meditar a continuação do texto que líamos no domingo passado (Lc 4, 16 em diante). Na sinagoga de Nazaré, em um sábado, Jesus anuncia um ano de graça, como esse ano de jubileu da misericórdia que o papa Francisco propõe para esse ano. Um ano para curar as pessoas, cuidar dos feridos e libertar os oprimidos.
- No caso de Jesus, em Nazaré, seus conterrâneos da sinagoga o acolheram como terapeuta, mas o queriam com exclusividade. Exigiam que a missão de Jesus fosse “só para nós”. Jesus percebe isso e não acolhe o entusiasmo deles. Este é o sentido dos últimos versículos dessa cena de Jesus na sinagoga de Nazaré. Ele revela que, assim como Elias e Eliseu fizeram no passado, ele também dirigirá a sua palavra e sua ação para os “outros”, para os “de fora”. Então, os homens da sinagoga ficam furiosos com ele e chegam a querer matá-lo.
Parece que Jesus provoca duas reações:
1 – O texto diz: “eles ficaram espantados com o fato de que ele só tenha lido Isaías e tenha ficado só com as palavras de graça” (ele pulou o versículo que falava da vingança de Deus).
2 - Vão ficar mais espantados ainda quando Jesus justifica dizendo que esse Jubileu é para todos e principalmente para os outros, para os estrangeiros, os migrantes, os não religiosos.
Ali na sinagoga, aqueles fieis são a favor do Messias, mas desde que sua ação salvadora seja em benefício do “nosso grupo” e não dos “de fora”. Era como se cada um dissesse: ‘Eu acreditarei no enviado de Deus se ele for poderoso, em meu favor... e vingativo para com os outros’. Este é um desafio atual para todos nós. Como pobres, devemos acolher a Palavra e, ao mesmo tempo, somos chamados a continuar essa missão de Jesus de “ser para os outros”. Deixar-se possuir pelo Espírito para ser pessoas de cura e de libertação. Nessa mesma linha do que fez Jesus, um pequeno trabalho, mas importante, é ser capaz de reler os textos antigos como Ele, Jesus, fez: reler os salmos e os textos bíblicos, reinterpretando a Palavra de Deus para que possa ser, hoje, para todas as pessoas, uma palavra de graça e de paz.
Este incidente na sinagoga de Nazaré provoca uma ruptura. Ele chega a Nazaré com prestígio e sai quase clandestino. Os conterrâneos de Jesus querem matá-lo e ele escapa por pouco da mão daqueles religiosos da sinagoga, justamente os que se pensavam como sendo os mais espirituais. Deixaram-se tomar pelo fanatismo e pelo fundamentalismo religioso.
Essa proclamação que Jesus faz do seu projeto de vida e de ação fundamenta todo o nosso esforço pelo diálogo intercultural e inter-religioso. Mostra que o pluralismo que existe no mundo de culturas e de religiões está dentro do plano divino e que devemos não somente aceitá-lo, mas aprender com essa boa diversidade. E quem é discípulo/a de Jesus sabe que é chamado a ser como Jesus: sentir-se enviado/a para servir e dar testemunho do amor divino aos de fora (de outras religiões e outras culturas) e não apenas para os de dentro (das Igrejas e instituições da nossa cultura e religião).