artilho com vocês o comentário ao evangelho desse domingo feito pelo grupo de Whatts up: Juventudes e Evangelho, grupo coordenado pelos jovens Jonathan Félix, Sandson Rotterdan e Cladilson Nardino:
JUSTIÇA OU AMBIÇÃO? (Lc 12,13-21)
*Da vida ao texto*
Além das inúmeras tarefas que realizamos durante o dia, o modelo de sociedade dominante, cultiva a cultura do “eu ter”. Ter a minha casa, ter o meu carro, ter a minha formação (graduação, mestrado, doutorado, PHD..), ter o meu trabalho, ter minha conta no banco, ter o meu namorado/a, ter o meu...o meu e o meu. Quanto mais eu tenho, mais eu me torno alguém.
É como se a posse de algo ou de alguém determinasse o que cada um é. E em todo esse contexto esquecemos que não vivemos sozinhos e que não somos eternos nessa terra. Em um determinado momento o que temos ou o que acumulamos será destinado a alguém ou a algum lugar. E, legalmente, isso gera diversos problemas. Ainda hoje, muitas famílias se dividem e se dilaceram por problemas de herança. Isso existe muito na classe rica, mas não somente. Como a gente interpreta hoje em dia, essa história que o evangelho chama de "ser rico para Deus"?
*O Texto*
Jesus, como bom mestre, está para ensinar àqueles que, com ele, se põem a caminho de Jerusalém. As questões são cotidianas, envolvem coisas práticas da vida. Alguém, propõe um problema de divisão da herança a Jesus. Jesus não se prende às questões da legalidade, da justiça pela via da lei pura e simples. Ele vai ao coração do problema, que extrapola a legalidade e se encontra com aquilo que é mais profundo: qual o motivo da reclamação da herança? A justiça ou a cobiça? Para tratar desse assunto Jesus propõe uma parábola, que está em consonância com alguns escritos sapienciais do Primeiro Testamento: a riqueza é algo capaz de produzir vida? Ou perguntando de outra forma, a vida está a serviço dos bens? Vale a pena viver toda uma vida para acumular, ou o trabalho e os bens existem para que o ser humano usufrua deles na caridade para com todas e todos? A sabedoria do povo de Jesus aponta que um sentido para a vida não consiste em aumentar celeiros, em produzir crescimento econômico ao custo dos mais pobres, pois a morte é sempre iminente e iguala a ricos e pobres. De que vale ajuntar tanto? Cuidado com a cobiça, mesmo amparada pela lei, aquele que acumula bens enquanto os irmãos morrem de fome não é rico diante de Deus. A sabedoria popular é, de fato muito sábia... Caixão não tem gaveta.
*Do Texto à Vida*
O texto desconcerta as pessoas do tempo presente. Vivemos focados em carreira, trabalho, pensando na próxima aquisição, no crescimento econômico, no quanto podemos lucrar com as taxas de juros, às vezes em tudo isso amparados pela lei. Não é ilegal buscar a herança, nem Jesus está dizendo isso.
Mas essa mesma sociedade produz em nós vazios existenciais. Vivo para produzir, sou o que produzo? Sou produto?
Jesus questiona a sinceridade de nossos projetos de vida ególatras. A cobiça da cultura do “eu ter” retirou de nós a capacidade de lidar com a nossa finitude e de descobrir que um sentido para a vida está em construir relações mais sadias com toda a criação: a natureza e os outros seres humanos. O sentido não pode estar escondido na lógica do “eu ter”, de uma herança só para mim, mas se esconde no horizonte da herança que Deus prometeu a Israel: a terra onde corre leite e mel, a terra sem males, o Reino. Quando estamos voltados para esta herança, de fraternização de todos os seres, de vida em abundância para todos e não somente para mim é que encontramos algum significado para viver diante de uma morte iminente.
Subir a Jerusalém implica também e adquirir sabedoria, juntar tesouro que a traça não corrói nem o ladrão rouba: mais vale ser rico diante de Deus, de nada adianta aumentar os celeiros e deixar os outros a morrer de fome.
*Texto elaborado a partir das partilhas diárias do Círculo Bíblico Ecumênico “O Verbo se Fez WhatsApp”. O grupo é composto predominantemente jovens e por várias pessoas ligadas às suas causas - mães, pais, agentes de pastoral, religiosas, pastores, padres.