Hoje, comecei o dia participando na Basílica do Carmo da celebração de ação de graças pelos 50 anos de padre do frei Tito Medeiros. Ali tive um minuto para falar. Disse que seria importante recordar o clima de esperança e de renovação da Igreja do Recife naquele primeiro ano do ministério de Dom Helder Camara como arcebispo e hoje retomar aquele espírito.
Para vocês, hoje, reproduzo a reflexão sobre os textos bíblicos desse domingo (amanhã), enviadas pelo Centro dr Alceu Amoroso Lima:
Domingo, 6 de Julho de 2014: 14º Domingo do Tempo Comum - Ano A
Doce e humilde. Celebramos hoje o 14º Domingo do tempo comum. No Evangelho, que corresponde ao fim do discurso sobre a missão, o próprio Mestre dá o exemplo: “partiu dali para ensinar e pregar”. Mesmo tendo passado por vicissitudes diversas, Jesus entoa um “hino de júbilo” e dá graças ao Pai.
Textos deste Domingo
1ª leitura: O Messias que vem é um rei humilde (Zacarias 9,9-10)
Salmo: Sl 144(145) - R/ Bendirei eternamente vosso nome, ó Senhor!
2ª leitura: O Espírito do Cristo está em nós e nos ressuscitará (Romanos 8,9.11-13)
Evangelho: «Eu sou manso e humilde de coração» (Mateus 11,25-30)
"Vós encontrareis descanso"
A primeira leitura nos convoca à alegria e o evangelho nos promete o descanso. São textos que se inscrevem na longa lista de louvores, ações de graças e exultações que encontramos na Bíblia. Todas as Escrituras são portadoras de uma boa nova, a boa nova do poder do amor que nos faz existir, que nos acompanha em todos os nossos percursos e nos encaminha para a vitória da vida. Por que repetir isto? Porque há uma parte de nós que tem medo de Deus. Medo das suas exigências, do peso dos fardos que temos dificuldade em achar leves. Medo da sua «justiça». Isto nos impede de dar o passo decisivo para uma confiança total, para nos abrirmos sem reservas ao amor. E, no entanto, o medo é o contrário da fé. O descanso de que Jesus nos fala é, por um lado, o fim da inquietude, da tensão e das preocupações. Nossos projetos, previsões e disposições sem dúvida se mantêm, mas agora vividos na paz. Até mesmo as nossas falhas não podem abalar a certeza fundamental de que Deus está conosco. Tudo o que a vida nos propicia de sofrimentos, enfermidades, doenças, decepções etc. não é obra de Deus, não mais que a cruz do Cristo que foi erguida pelos homens. Mas bem aí onde a morte queria reinar, Deus acaba de fazer jorrar a vida. E, desde então, todo fardo pode se tornar leve e se torna de fato, se acreditamos verdadeiramente nesta Presença que nos habita e que nos acompanha na travessia de todos os Mares Vermelhos que temos de transpor.
O fardo leve
Jesus, no evangelho, nos convida a tomar sobre nós o seu jugo. Lembremos que jugo é o instrumento que serve para associar dois animais, tendo em vista a tração de um objeto difícil de mover-se. Sendo assim, estamos «conjugados», somos «cônjuges». O convite para carregar o jugo do Cristo pode nos meter medo, mesmo se apenas para carregarmos junto com Ele. Isto merece reflexão. De início, não esqueçamos que o fardo da vida será carregado de qualquer modo, com Ele ou sem Ele. Além disso, devemos compreender, sobretudo, que o jugo do Cristo é na realidade nosso. Foi Ele que veio até nós para suportar as nossas misérias, fraquezas e sofrimentos. Veio carregar o nosso fardo, um fardo que não veio dele, que não é o seu, mas que nisto se converteu, em virtude do amor que o fez «renunciar à sua condição divina» (reler Filipenses 2,5-11). A Cruz não acrescenta nada às nossas cruzes; não é um fardo suplementar que Deus viria acrescentar aos nossos males. Ao contrário, Deus é que vem assumir os pesos que nos arrasam e, exatamente por isso, o fardo pode tornar-se leve. «Pode tornar-se leve», não que automaticamente se torne: mas só se, pelo caminho da fé, aceitamos carregar este jugo que era o nosso, e que se tornou o do Cristo. Não seremos mais, então, os únicos a levá-lo. O fardo torna-se Cruz e, por conseguinte, podemos levá-lo mediante a promessa da travessia pascal.
Sob a moção do Espírito
Deus é o ser imperceptível que é o fundamento de tudo o que existe e que nos dá tudo, mais além até dos nossos desejos os mais desmesurados, mas não nos dá nada apesar de nós. É preciso o assentimento da nossa liberdade. Encontra-se aí o fundamento da nossa dignidade, porque, sem o livre acolhimento do dom que nos é feito, dom que somos nós mesmos, não seríamos imagens da sua liberdade soberana. A recusa do dom pode assumir muitas formas. Primeiro, o desgosto de viver, a solidão em desespero. Mas também a ilusão de viver por si mesmo, a ignorância, aceita ou mesmo até cultivada, do fato de que viemos dum Outro. A recusa do «Outro» que nos permite ser «Eu». Podemos, sem nenhum artifício, assimilar esta maneira de sermos nós à recusa de levar o jugo com o Cristo. Na segunda leitura, Paulo chama de carne este fechamento em si mesmo que nos deixa na órbita da morte. A carne é fechamento. Já o Espírito, que tem como símbolos o vento e o pássaro, ao contrário, é abertura. Ele vem nos visitar, vem nos habitar, para fazer-nos sair de nós mesmos. É movimento e liberdade. Ele «sopra onde quer», diz Jesus em João 3,8. Abertura e também movimento. Vôo para um lugar outro, que não podemos adivinhar qual seja, porque é participação na natureza divina. Por isso não é absolutamente necessário ser um intelectual de alto nível nem um teólogo formado: basta ser confiante como uma criança em relação à sua mãe, para acolher o Filho em quem o Pai se revela.