Desde muito jovem, me senti muito marcado por essa festa que a Igreja celebra nesse domingo: a Manifestação de Jesus a todos os povos e raças da terra. Provavelmente, foi essa festa que revelou a mim ainda muito jovem que Deus me chamava para ser testemunha da abertura universal de Deus a todas as culturas e religiões. Assim como Jesus se abriu aos magos, pais de santo, daquela época (segundo o evangelho, eram isso, sacerdotes da religião persa, nem reis, nem sábios no sentido de eruditos), eu também deveria sempre encontrá-lo mais no outro e no diferente do que na minha própria "casa".
A primeira leitura (Isaías 60) ainda tem uma concepção de salvação etnocêntrica. As nações pagãs vêm a Jerusalém. A cidade se abre para acolhê-las, mas como centro e luz para todas as culturas. No caso do evangelho (Mt 2, 1 - 12) também se poderia fazer essa leitura: os magos vêm de longe para adorar a Jesus. O Cristianismo é uma religião universal, aberta a todos e acolhe a todos mas, em uma linha inclusiva. Isso significa que todos são chamados a ser cristãos. Mas, uma leitura mais profunda do texto poético, parabólico de Mateus pode nos levar a uma interpretação mais aberta e pluralista.
Hoje, esse evangelho nos faz meditar:
Cada um de nós vive uma busca interior. Uns com mais intensidade e coragem. Outros deixam sua busca meio adormecida e se acomodam no já encontrado e se deixam levar pela banalidade do dia a dia... sem tantas questões e sem ousar novas interrogações. A história dos magos é uma parábola que nos faz retomar nossa peregrinação atrás da estrela. E essa festa nos faz rever qual tem sido a estrela guia que nos orienta e nos conduz na noite escura da fé e da busca pessoal?
Sem dúvida, para os magos do Oriente, não foi fácil reconhecer um novo chamado através da luz da estrela e caminhar não na direção de algum centro de peregrinação importante, mas de uma aldeiazinha perdida nas montanhas da Judéia chamada Belém.
No meio da busca, os magos foram ao centro do poder religioso e político. Esse contato com Herodes e com os sacerdotes só deu problema. Eles acabaram involuntariamente provocando o massacre dos inocentes e a perseguição de Herodes ao menino Jesus. Os sacerdotes da religião correta sabiam muito bem a verdade - interpretaram corretamente a profecia - mas isso não os levou a Deus. Os pagãos que não tinham Bíblia e não sabiam nada da verdadeira fé, foram adorar e reconheceram em uma criança pobre a presença divina.
Deus se encontra na casa da periferia, na gruta que não tem portas nem muros. Adorar é admirar-se, é reconhecer o divino no humano, em todo ser humano, mas especialmente no mais pequenino e pobre. Os presentes dos magos são simbólicos: com o ouro, reconhecem a dignidade e o valor inestimável, a realeza de todo ser humano ali representado naquele menino de Belém. Toda criança merece que se ponham a seus pés toda a riqueza do mundo. O incenso significa o desejo de que a vida dessa criança desabroche e se eleve até Deus. Todo ser humano é chamado a ser divino, a se divinizar. A mirra é medicamento para aliviar os sofrimentos e significa que todo ser humano é frágil e merece um cuidado atencioso. O menino de Belém é símbolo de que Deus introduz no mundo uma nova magia: o que o papa Francisco tem chamado de misericórdia. É esse caminho que devemos retomar e reacender como luz da estrela nas estradas de nossa vida.