A partir desse quinto domingo da Páscoa, a liturgia começa a nos preparar para conclusão do tempo pascal que é a festa de Pentecostes. Nesses domingos, os evangelhos são tirados do discurso que o 4° evangelho coloca na boca de Jesus depois da última ceia. No texto de hoje (Jo 15, 1- 8), o evangelho insiste que somos habitação, morada de Deus. Essa presença interior de Deus em nós se dá através do Espírito e no seguimento de Jesus. Se a comparação da videira faz a gente compreender a nossa relação com Jesus - nós somos os ramos, ele é a raiz, o tronco, então, o Espírito Santo é a seiva que irrita os ramos a partir da raiz que é o Cristo.
O começo do capítulo 15 de João é o centro do discurso de Jesus durante a ceia. E a imagem da videira é na Bíblia toda um símbolo da vida sedentária. A videira é imagem do lavrador fixo em sua terra. (Diferente do pastor nômade que vai sempre para onde tiver pastagens para o seu rebanho). A videira é a imagem mais frequente que a Bíblia usa para falar do povo de Deus. Dizem que ao menos 200 vezes a Bíblia fala de videira, desde o tempo em que Noé saiu do dilúvio e plantou uma videira (Gen 9). O salmo 80 fala da videira que é Israel... Isaías fala da videira que é Israel (Is 5 e Is 27). Também Jeremias e Ezequiel comparam Israel com a videira que dá bons frutos ou que não dá frutos. Agora Jesus diz: a verdadeira videira sou eu. E o sou eu, nome divino, se repete duas vezes... Há biblistas que leem nas palavras de Jesus uma crítica ao Judaísmo (a videira não é mais Israel. É Jesus). Acho essa interpretação limitada e problemática. A questão não é a gente entrar na polêmica da comunidade joanina contra a sinagoga do seu tempo e sim compreender que o importante é que ao se colocar como videira, Jesus insiste em relações de vida e de comunhão e não de organização ou estrutura, seja do Judaísmo, seja do Cristianismo.
Eu sou a videira significa a plantação de Deus no mundo é alguém e é Jesus e somos nós como seus discípulos que se tornam ramos da mesma árvore que é ele.
Um elemento importante é a comparação da videira e dos frutos. Todo ramo que não der fruto será podado.... O que significa isso? Que fruto é esse? Não gostaria de pensar em uma direção de obras que Deus exigiria de nós e sim de uma fecundidade de amor. Nesse domingo, a arquidiocese de Olinda e Recife inicia o processo de canonização de Dom Helder Camara. Tenho muitos problemas e receios com relação a esse processo canônico. Penso que Dom Helder nem gostaria disso. Mas, se for para que a Igreja retome o caminho que o Dom trilhou, então vale a pena, vamos aceitar.
Lembro-me de uma anotação que li em um documento de Dom Helder ainda novo no qual ele dizia: "Provavelmente, eu não serei muito conhecido. Escreverei uma ou outra coisa que ninguém lerá e só Deus saberá aquilo que eu fiz". Não foi assim. Foi o contrário e ele se tornou conhecido no mundo inteiro e seus escritos tocam toda a humanidade. Por que? Por causa do fato de que expressam a fecundidade do amor... Esse é o fruto que Deus espera de nós.