Preferiria comentar aqui as leituras do 2o domingo do Advento, mas, no Brasil, para se inserir na realidade da devoção popular, a Igreja Católica celebra mesmo a festa da Imaculada Conceição da Virgem Maria (festa que em outros países, por cair no domingo do Advento, fica transferida para o dia seguinte). É uma festa problemática por várias razões: é um obstáculo ecumênico com as outras Igrejas das quais nenhuma, nem as ortodoxas conhecem essa celebração ou esse dogma. Também é problemática porque o povo mesmo que celebra não compreende de que se trata. Acha que se trata da concepção de Jesus (Maria concebeu Jesus por ação do Espírito). E o próprio evangelho da festa, ao narrar a anunciação do anjo a Maria, facilita essa confusão. Por outro lado, qual outro evangelho, a Igreja encontraria para uma celebração que não está na Bíblia?
O que posso meditar nesse dia e sobre o que pregarei ao povo na missa que amanhã celebrarei na Igreja das Fronteiras?
1o - que todos nós, de certa forma, somos pessoas que vivemos esse mistério da imaculada conceição. Ou seja, todos somos concebidos por graça divina e em uma realidade que é a do amor e da bênção divina e não do pecado, como se acreditava em outros tempos.
2o - Hoje temos de rever toda a forma de falar do tal pecado original. Que todas as pessoas nascem já com o peso da culpa de Adão. Mesmo se há uma solidariedade na fragilidade humana, a graça é muito maior do que o pecado.
3o - E aí Maria é nos evangelhos a figura da comunidade de Israel e da Igreja. Ela representa todos nós, é como uma imagem do que todos nós somos chamados a ser: consagrados desde a nossa concepção para sermos de Deus e realizarmos o seu projeto sobre nós e sobre o mundo.
É por isso que nós podemos como Maria, nós também conceber da palavra divina e termos a presença divina dentro de nós, como ela teve e como ela foi transformada por ela.