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Meditação bíblica para o domingo, 19 de outubro 2014

Cheguei a Pinerolo, perto de Turim, no norte da Italia. Aqui, nesse final de semana, trabalharei com um grupo bíblico daqui a conclusão do comentário ecumênico ao evangelho de Marcos que desde o ano passado estou escrevendo com esse grupo. Ontem foi um dia fatigante e por outro lado muito bom. Depois, contarei. Agora lhes deixo com um comentário sobre as leituras bíblicas desse domingo feito por um padre francês e distribuído via internet pelo Centro Alceu Amoroso Lima. Desculpem não mandar um comentário mais pessoal meu porque não tenho nenhum tempo de fazer isso agora. Por outro lado, concordo com esse comentário que li: 

Domingo, 19 de Outubro de 2014: 29º Domingo do Tempo Comum - Ano A

Dize-nos o que pensas: «Meu Reino não é deste mundo», dirá Jesus um dia. Não há para ele nenhuma ambiguidade entre o poder dos reis e a humildade dos servidores, entre as posses dos ricos e a pobreza dos pequenos, entre a sabedoria dos sábios e a procura dos que buscam a Deus. Sede cidadãos do mundo, diz, mas não esqueçais que sois cidadãos do Reino.

Textos deste Domingo

1ª leitura: Os impérios estão na mão de Deus (Isaías 45,1.4-6)

Salmo: 95(96) - R/ Ó família das nações, dai ao Senhor poder e glória!

2ª leitura: A fé, a esperança e a caridade da comunidade (1Tessalonicenses 1,1-5) 

Evangelho: Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus (Mateus 22,15-21)

Uma armadilha sutil

A resposta de Jesus aos fariseus parece à primeira vista uma pirueta verbal, destinada a desarmar a arapuca que tramaram contra ele. A armadilha é evidente: se responde que Deus aceita que se pague o imposto, vai se por contra todos os que resistem à ocupação romana, ativos ou não. Vai se passar por uma espécie de «colaborador». Se, ao contrário, responder que não se deve pagar o imposto, os seus adversários irão imediatamente a Pilatos, para denunciá-lo. Jesus, na realidade, irá aproveitar-se desta armadilha para revelar uma verdade fundamental. É em nome da fé e do «verdadeiro caminho de Deus» que os fariseus pedem que ele se pronuncie. Em outras palavras, pagar ou não pagar o imposto ao imperador seria um problema que se resolveria a partir do culto prestado a Deus; seria, portanto, uma questão de fé. A armadilha é sutil porque, em certo sentido, tudo o que temos de fazer e de viver deve se realizar na fé; tudo diz respeito a Deus. De fato, tudo o que é verdadeiramente humano é ao mesmo tempo divino, uma vez que ser homem consiste em ser imagem e semelhança de Deus. Nada escapa a este Ser que é o fundamento de tudo o que existe. Por isso, pagar ou não pagar o imposto tem algo a ver com Deus. Mas o que significa, então, a resposta de Jesus que parece distinguir um domínio que é divino e um domínio que é simplesmente humano? Isto nos lembra outra resposta, dada a alguém que lhe pedia para fazer com que o irmão repartisse a sua herança (Lc 12,13): «Quem me estabeleceu juiz ou árbitro da vossa partilha?»

O permitido e o proibido

O que, então, Jesus quer dizer? É importante dar a esta questão a resposta certa, pois ela é que comanda a nossa atitude para com a sociedade «laica», no bom sentido da palavra. E, também, o valor que podemos reconhecer nas escolhas feitas por tantos homens e mulheres sem qualquer referência religiosa. Digamos que livremente é que o homem deve aceitar se construir à imagem de Deus. As Escrituras não nos fornecem nenhuma lista do que é «permitido». Ao contrário, somente do que é «proibido»: as 10 palavras (Decálogo) que, depois de nos terem dito que a nossa verdade consiste em amar, enumeram os limites além dos quais não há amor possível. Já foi dito que estas proibições podem se resumir no «Não matarás», que ocupa o centro da lista. Entendendo-se que matar o outro começa quando o desprezamos, quando não o levamos em conta, quando o reduzimos ao silêncio ou ao estado de objeto utilizável na «produção». Tendo dito isto, notemos que Deus não nos prescreve como amar. Cabe a nós inventá-lo: «Eis que hoje estou colocando diante de ti a vida e a felicidade, a morte e a infelicidade. Escolhe, pois, a vida, para que vivas» (Dt 30,15 e 19). Mas onde está a felicidade? Onde, a infelicidade? Cabe a nós decidir. Pois, não comemos o fruto da árvore do bem e do mal? Deus não nos prescreve; não se pronuncia em termos do que seja permitido e proibido. Seria bom se, um dia, a Igreja imitasse esta maneira divina de se comportar.

Deus e César

Ao pedir que os fariseus identificassem a efígie de César na moeda que usavam todos os dias, Jesus quer que tomem consciência da lógica das suas vidas: se não querem pagar o imposto, que se recusem também a fazer as compras com estas moedas. E ainda, da mesma forma, que renunciem a se fazerem pagar com esta moeda estrangeira. Somos assim convidados a tomar as nossas decisões não em virtude de uma suposta vontade de Deus, mas segundo a lógica, a que estiver ao nosso alcance, de tudo o que temos de viver. Sob a condição, é claro, de que estas decisões provenham da nossa escolha fundamental, de ter no amor a nossa linha de conduta. Isto evidentemente é o que deve dominar o nosso discernimento a respeito das condutas a manter. Com isto dito, podemos tomar consciência de que «dar a César o que é de César» é o melhor meio de «dar a Deus o que é de Deus». De fato, através dos outros é que Deus vem nos encontrar e, também, através dos outros é que nós O encontramos. Mas cheguemos até o fim: quanto mais os outros nos são estranhos e estrangeiros, mais eles nos trazem a presença daquele que é o «Todo Outro». Notemos, no entanto, que os fariseus não perguntam se é permitido ou proibido pagar um imposto injusto, mas simplesmente pagar o imposto. O que aqui está em causa não é o justo ou o injusto, mas a imagem que se faz de Deus: em vez de um Deus que prevê e prescreve todas as nossas condutas, somos convidados a descobrir um Deus que nos convoca à liberdade.

Marcel Domergue, jesuíta (tradução livre de www.croire.com pelos irmãos Lara)

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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