Nesse domingo, as comunidades leem no evangelho o episódio em que Jesus acalma o mar e vence uma tempestade no meio de uma madrugada escura. O texto pode ter uma base histórica porque o lago de Genesaré até hoje tem tempestades repentinas e terríveis que de repente se acalmam. É decorrente do fato de que o lago fica em uma depressão, a maior do planeta, 200 metros abaixo do nível do mar e rodeado por altas montanhas. Então, uma vez ou outra, as correntes de vento descem do alto quase verticalmente sobre o lago e aí se formam as tempestades. O evangelho (Marcos 4, 35 ss) conta uma dessas. Só que o evangelho aproveita para fazer dela um símbolo do que acontece com nossas vidas. Jesus diz aos discípulos e a nós: Vamos passar para o outro lado. No caso dele, esse "outro lado" era o lado do território estrangeiro onde moravam populações de cultura grega. Então, passar ao outro lado significava sair da própria cultura e ser capaz de dialogar com outro modo de ser. Nós temos de ser capazes disso que não é fácil, mas é o caminho tanto para a fé, como para um mundo mais justo e humano.
Comumente, a gente liga a imagem de Deus com o silêncio e a paz. No entanto, Jesus se apresenta aos discípulos no meio da tempestade e é capaz de silenciar os ventos e dominar os elementos da natureza, do mesmo modo que ele tinha dito às energias negativas que existiam nas pessoas: sai desse homem. Sai dessa mulher....
Hoje ainda, mesmo nas tempestades mais violentas da vida é importante perceber que Jesus está presente, mesmo se parece dormindo. E podemos contar sim com a presença e a atuação dele nos restituindo paz e segurança.
Nesses dias, o papa Francisco publicou sua encíclica sobre a ecologia. Todo mundo está comentando. Preferi deixar o texto sair em livro e em português para estudá-la e comentá-la. Mas, é claro que no fundo ele está dizendo que hoje as tempestades ecológicas (seca, inundações, terremotos e tsunamis) parecem provocados pela ação humana e por esse modelo depredador de sociedade em que vivemos. Também nesse momento, precisamos ver a fé em Jesus como força para acalmar as tempestades e entrar em um contato novo e mais profundo com a natureza- entrar em comunhão.