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​Meditação bíblica para o domingo 29 de dezembro 2013

Nesse domingo dentro da oitava (os oito dias da festa) do Natal, a Igreja lê o evangelho que nos faz recordar o cuidado dos pais de Jesus com o seu filho. (Mt 2 13 ss). 

O evangelho de Mateus liga José, o pai de Jesus com José, o patriarca antigo, através do qual o povo hebreu foi para o Egito. Quer dizer, assim, que Jesus refez a experiência do exílio e do Êxodo, assim como o povo antigo viveu no estrangeiro e voltou para a terra prometida. O Egito era o refúgio das pessoas que fugiam de reis dominadores. Jeroboão, quando líder dos trabalhadores, fugiu do rei Salomão se refugiando no Egito (1 Rs 11, 40). O profeta Urias fugiu do rei Joaquim se refugiando no Egito ( Jr 26, 21).

José Saramago, em seu “Evangelho segundo Jesus Cristo” acusa José de não ter avisado aos vizinhos para que estes também fugissem e protegessem assim os seus filhos. Ele teria deixado as outras crianças de Belém morrerem e protegeu só o seu. De fato, esta visão crítica é boa porque nos pergunta sobre a imagem de Deus que nós cultivamos. Essa história é uma parábola ou história simbólica. Não é um fato histórico. Por isso, não podemos procurar coerência em todos os detalhes da história. Mas, de fato, Saramago tem razão em nos recordar isso.

Mateus apresenta Jesus como um novo Moisés. Há pessoas que lêem isso no sentido de que, então Moisés e o judaísmo estão superados. Não foi essa a intenção do evangelho. Mais tarde, quando, sobre o monte, Jesus dá ao povo o programa do reino dos céus,  Ele diz claramente: “Eu não vim abolir a lei, mas vim levá-la à sua plenitude”( 5, 17). Jesus é um “novo” Moisés, no sentido de que ele continua a função que Moisés teve de reunir o povo de Deus e o ajudar a escutar e obedecer à lei. Mas, não no sentido de alguém que o substitui.

Vejam esse comentário de um teólogo africano: 

“O fato de Jesus ter sido quando criança um refugiado político em solo africano (o Egito), deveria ensinar-nos muitas lições. (...) Ao participar da sorte e da luta de tanta gente sem pátria, Jesus honrou todos os que sofrem por não ter onde morar, em razão da guerra, da fome, da perseguição e de outros desastres. Existem milhões de refugiados no continente africano e em outras partes do mundo. A maioria leva uma vida miserável. (...) Os governos não se sensibilizam para o drama da vida dessas pessoas. O resultado é a multiplicação de pessoas sem pátria, condenadas a viver como prisioneiras virtuais, sem direitos de cidadãs, num pedaço de terra que não é o seu. O triste é que muitos cristãos não se preocupam com o assunto ou até crêem na mentira de que toda pessoa refugiada cria problemas , mas a Bíblia está cheia de homens e mulheres que viveram como refugiados: Abraão, Moisés, José, bem como grande parte da nação de Israel no Egito e depois na Babilônia. (...) Onde está o povo de Deus para mostrar sua compaixão?”

(do Comentário Bíblico Africano)[1].

 E agora eu trago um comentário de um rabino judeu, amigo nosso: “A questão do exílio é central na mística do judaísmo. Desde o exílio no Egito, passando depois pela Babilònia, exílio romano e tantos outros, esse conceito passou a representar o afastamento absoluto da natureza ideal. O fim do exílio tornou-se representativo dos tempos utópicos, messiânicos, onde se daria um retorno à própria casa, ao próprio ser, à própria natureza” (Rabino Nilton Bonder[2]). 

 Tanto para ir para o exílio, como para voltar, Mateus diz que José foi advertido por Deus em sonhos. Nesse sentido também o evangelho liga José, pai de Jesus, com José, patriarca no Egito. Ele também era sonhador. Hoje, temos a tendência de não levar a sério nossos sonhos. É claro que existem sonhos de má digestão, sonhos de quem dorme mal, etc... Mas, o sonho é uma linguagem através da qual nosso inconsciente ou subconsciente fala e nós precisamos escutar. Não para interpretá-los ao pé da letra, mas para tentar através dele escutar a nós mesmos ou seja o nosso eu mais profundo e no nível mais íntimo ainda, o próprio Espírito que fala em nós. 

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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